O momento de implantação/semeadura de uma cultura do milho é determinante para o sucesso produtivo da lavoura. Na semeadura é definido um dos principais componentes de rendimento, o número de plantas por área, que pode afetar diretamente a produtividade da cultura.
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Além da utilização de sementes certificadas, com boa qualidade fisiológica, sanitária, física e genética, é necessário alguns cuidados no momento de implantação da lavoura a fim de proporcionar melhores condições para o bom estabelecimento e uniformidade do estande de plantas. Definida a população a ser utilizada, é necessário atentar para o processo de semeadura do milho, mais especificamente para a qualidade do processo.
Dentre os principais fatores que interferem na plantabilidade do milho, Bottega et al. (2014) destacam a velocidade de semeadura. Embora atualmente algumas semeadoras modernas possibilitem maior velocidade de trabalho, os autores destacam que velocidades inadequadas de semeadura podem ocasionar redução da média de espaçamento normal entre plantas, refletindo em maior número de espaçamentos duplos e falhas, principalmente se tratando de velocidade elevadas de trabalho.
Tabela 1. Plantas falhas (PF); plantas duplas (PD); e espaçamento normal (EN), em função de diferentes velocidades de semeadura do milho.
As médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Adaptado: Bottega et al. (2014).
A redução do número de espaçamentos falhos em decorrência do aumento da velocidade de semeadura ou velocidade inadequada pode alterar a densidade populacional das plantas, impactando a produtividade da cultura. Além disso, a presença de espaçamentos falhos contribui para a emergência de plantas daninhas, resultando em matocompetição com a cultura do milho, reduzindo sua produtividade.
Conforme observado por Kopper et al. (2017), independente da população de milho avaliada (60 ou 70 mil plantas por hectare), o aumento da velocidade de semeadura do milho resultou em significativa redução da produtividade da cultura, especialmente na menor população avaliada, destacando a importância da adequada velocidade de semeadura para a boa plantabilidade e produtividade da lavoura.
Figura 1. Produtividade de milho segunda safra (kg ha-1) em função de quatro velocidades de semeadura e duas populações de plantas (60 ou 70 mil plantas por hectare).
*Significativo a α <0,05 de probabilidade de erro.
Fonte: Kopper et al. (2017).
Além da utilização de sementes de qualidade e da boa plantabilidade, para a obtenção de altas produtividade de milho é essencial reduzir a interferência de fatores bióticos ou abióticos, tais como pragas e doenças que acometem a cultura, assim como fatores ambientais que possam prejudicar o bom crescimento e desenvolvimento do milho. Visando minimizar a interferência de fatores ambientais, o posicionamento de cultivares, quanto a época de semeadura e aptidão é fundamental para a obtenção de boas produtividades.
No que diz respeito a pragas e doenças que acometem a cultura em seus estádios iniciais do desenvolvimento, o tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas registrados para a cultura do milho é indispensável para assegurar a menor interferência desses agentes no estabelecimento da lavoura e/ou redução da qualidade do estande de plantas.
Ainda relacionado ao desenvolvimento inicial do milho e estabelecimento da lavoura, o controle de plantas daninhas é fundamental para evitar perdas produtivas em decorrência da matocompetição. Conforme destacado por Fontes & Gonçalves (2009), a interferência negativa de plantas daninhas é responsável por perdas produtivas superiores a 80% em milho, quando nenhuma ação de controle é realizada.
Uma das principais e mais difíceis espécies de plantas daninhas de se controlar na cultura do milho, em virtude de suas características morfofisiológicas é a braquiária (Brachiaria plantaginea), espécie também pertencente à família Poaceae. Resultados de pesquisa demonstram que a convivência com a braquiária começa a afetar a cultura do milho aos 11 dias após a emergência (DAE), sendo necessário realizar controle da daninha até os 27 DAE para evitar maiores perdas produtivas (Galon et al., 2008).
Figura 2. Produtividade de grãos de milho (t ha-1), em função dos períodos de convivência (◦) e de controle (●) de B. plantaginea.
PAI: período anterior à interferência; PTPI: período total de prevenção à interferência; PCPI: período crítico de prevenção à interferência
* Significativo a 5% de probabilidade
Fonte: Galon et al. (2008)
Uma das principais estratégias visando reduzir a interferência de plantas daninhas no estabelecimento da lavoura é a semeadura da cultura “no limpo”, possibilitando o estabelecimento da lavoura livre de competição com plantas daninhas. Em conjunto a essas ações e cuidados necessário na implantação do cultivo, é possível aderir a práticas de manejo benéficas, tais como a inoculação do milho.
A inoculação do milho consiste na adição de bactérias do gênero Azospirillum junto as sementes, possibilitando a atuação biológica delas. Essas bactérias são comumente conhecidas por atuarem como promotoras do crescimento, especialmente do sistema radicular do milho.
Figura 3. Efeito da inoculação de milho com Azospirillum no crescimento radicular.
Fonte: Hungria (2011)
A inoculação do milho, pode contribuir para o aumento do sistema radicular da planta e consequentemente aumento do volume de solo explorado, refletindo em maior absorção de água e nutrientes pela planta, contribuindo para o aumento da produtividade. Cabe destacar que assim como o tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas, a inoculação do milho deve ser realizada com qualidade, priorizando o uso de produtos adequado e a boa uniformidade de cobertura das sementes.
Tendo em vista os aspectos observados, conclui-se que uma série de cuidados são necessários na implantação da lavoura de milho para o bom estabelecimento das plantas e produtividade da cultura, e que, nem sempre essas práticas demandam alto investimento financeiro, e sim capricho na execução das práticas de manejo. O momento de semeadura do milho, assim como para outras culturas é determinante para o sucesso da lavoura e produtividade da cultura, sendo assim, deve-se destinar atenção especial a esse período.
Referências:
BOTTEGA, E. L. et al. EFEITOS DA PROFUNDIDADE E VELOCIDADE DE SEMEADURA NA IMPLANTAÇÃO DA CULTURA DO MILHO. Pesq. agropec. pernamb., Recife, v. 19, n. 2, p. 74-78, jul./dez. 2014.
FONTES, J. R. A.; GONÇALVES, J. R. P. MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa, Circular Técnica, n. 32, 2009.
GALON, L. et al. PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DE Brachiaria plantaginea NA CULTURA DO MILHO NA REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 26, n. 4, p. 779-788, 2008.
HUNGRIA, M. INOCULAÇÃO COM Azospirillum brasilense: INOVAÇÃO EM RENDIMENTO A BAIXO CUSTO. Embrapa, Documentos, n. 325, 2011.
KOPPER, C. V. et al. PRODUTIVIDADE DE MILHO SEGUNDA SAFRA EM FUNÇÃO DE DIFERENTES VELOCIDADES DE SEMEADURA E DENSIDADE DE PLANTAS. Pesq. agropec. pernamb., Recife, 22, e201701, 2017.
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