Para o crescimento e desenvolvimento da soja, é preciso respeitar algumas exigências da cultura, para que ela possa ser cultivada, sem maiores riscos e com o melhor aproveitamento produtivo. Tais exigências englobam fatores como clima, solo, manejo e ambiente.
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Integrando o time de commodities do setor agropecuária brasileiro, a soja (Glycine max) é cultivada de Norte a Sul do Brasil, como cultura de verão. Embora a soja responda ao fotoperíodo e soma térmica (acúmulo de graus dia), o melhoramento genético tratou de desenvolver cultivares adaptadas para todo território brasileiro, possibilitando a ascensão da cultura no brasil, que foi impulsionada entre outros fatores, pelo surgimento do sistema plantio direto (SPD).
Clima
Embora a soja também responda ao fotoperíodo, a temperatura sem dúvidas é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento da oleaginosa. Por ser considerada uma cultura de verão, já é esperado que temperaturas baixas não favoreçam o desenvolvimento da soja. A temperatura ideal para o desenvolvimento da cultura varia entre 20° e 30°C, sendo que temperaturas inferiores a 10°C e superiores a 40°C podem causar redução do desenvolvimento das plantas, implicando inclusive em alguns distúrbios fisiológicos como o mau pegamento dos legumes (vagens) (PAS Campo, 2005).
Além da temperatura, outro fator limitante no desenvolvimento da lavoura de soja é a baixa disponibilidade hídrica. Conforme destacado por Carvalho et al. (2013), dependendo da cultivar de soja, o requerimento hídrico da cultura pode variar de 450 mm a 850 mm durante seu ciclo de desenvolvimento, podendo chegar a picos de evapotranspiração de até 7,5 mm.dia-1 durante o período reprodutivo da soja.
Segundo Taiz et al. (2017) o déficit hídrico pode causar consequência como o fechamento estomático, a inibição do processo fotossintético e a interrupção do processo de crescimento vegetal (expansão celular), podendo impactar a produtividade da cultura. Sendo assim, o posicionamento da cultivar é se suma importância para minimizar os riscos da ocorrência de déficit hídrico, especialmente se tratando da soja de sequeiro (sem irrigação).
Solo
Atualmente, através do melhoramento genético de cultivares, já é possível ter acesso a cultivares com certa tolerantes solos úmidos, a exemplo de solos de várzea. Entretanto essa tolerância é condicionada ao período de estresse em que a soja é submetida, mas que pode possibilitar o cultivo da soja inclusive nesses ambientes. Contudo, de maneira geral, deve-se evitar solos rasos e pedregosos, dando preferência para ambientes bem drenados e sem impedimentos físicos ou químicos, com adequado perfil, que possibilite um bom crescimento e desenvolvimento do sistema radicular da soja. Logo, a escolha da área de produção da soja pode ser definitiva para o sucesso produtivo da lavoura.
Escolha e posicionamento da cultivar
A escolha da cultivar pode ser uma das decisões mais difíceis e de maior impacto no cultivo da soja. A escolha da cultivar deve levar em consideração fatores como a resistência genética a pragas e doenças, o sistema de manejo utilizado, o nível tecnológico da lavoura, produtividade, entre outros.
Com relação ao posicionamento da cultivar, orienta-se seguir as recomendações do Zoneamento Agrícola estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura da soja, priorizando a semeadura da cultura dentro dos períodos pré-estabelecidos para sua região de cultivo.
Manejo da fertilidade do solo
O manejo da fertilidade do solo deve ser realizado não só para a cultura da soja, mas para todas as culturas que integram o sistema de produção. Para identificar os níveis de fertilidade do solo recomenda-se a realização da análise química da fertilidade do solo. A recomendação da adubação da soja deve levar em consideração as recomendações técnicas para a cultura em sua região, suprindo as necessidades nutricionais da soja e a expectativa de produtividade da cultura.
Um dos primeiros fatores a se considerar é a acidez do solo, sendo necessário realizar a correção do solo quando o pH estiver a níveis inferiores a 5,5. A adubação em solos de pH inadequado implica em indisponibilidade dos nutrientes para a soja, refletindo em baixa produtividade da cultura.
Figura 1. Disponibilidade de nutrientes em função do pH do solo.
Fonte: Gitti & Roscoe (2017)
A adubação pode ser realizada na linha (base de semeadura) ou a lanço dependendo dos nutrientes empregados. Em algumas situações pode-se considerar realizar a adubação de sistema em cultivos consolidados, entretanto, independente da forma de adubação realizada, deve-se seguir os resultados da análise química da fertilidade do solo e as recomendações técnicas para a cultura (consulte um engenheiro agrônomo).
Aquisição e tratamento de sementes
Definida a cultivar, deve-se adquirir as sementes. Na aquisição das sementes de soja, deve-se priorizar o uso de sementes certificadas, com qualidade garantida. Sementes certificadas passam por um rigoroso critério de produção, apresentando boa qualidade fisiológica, física, genética e sanitária.
O ideal é que a semente apresente todos os atributos qualitativos citados anteriormente. Além da alta germinação e vigor, é necessário que as sementes de soja apresentem boa qualidade sanitária, estando livres pragas, doenças e sementes de plantas daninhas. Sementes de baixa qualidade sanitário podem ser fonte de inóculo de doenças como o mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), pragas como nematoides fitopatogênicos ou até mesmo conter sementes de plantas daninhas inexistentes na área de cultivo.
O tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas entre outros fatores busca proporcionar proteção às sementes contra pragas e doenças iniciais da cultura da soja, contribuindo para a manutenção da qualidade das sementes, resultando em um bom estabelecimento e estande de plantas. Além da escolha dos produtos que irão compor o tratamento de sementes, a uniformidade da cobertura das sementes é essencial para promover boa proteção a elas, sendo muitas vezes, o tratamento industrial de sementes (TSI), superior ao tratamento na fazenda on Farm no que diz respeito a esse quesito.
Figura 2. A esquerda TSI (figura a), a direita tratamento on Farm (figura b).
Em algumas situações, pode-se adicionar micronutrientes ou bioestimulantes ao tratamento de sementes a fim de suprir parte da demanda de alguns dos micronutrientes ou proporcionar melhores condições para o desenvolvimento inicial de plântulas de soja.
Inoculação e coinoculação da soja
Tendo em vista que o Nitrogênio (N) é o nutriente mais requerido pela soja e disponibilizado para as plantas através da fixação biológica de nitrogênio (FBN), a inoculação ou coinoculação da soja é essencial para a obtenção de altas produtividades. Tanto a inoculação quanto coinoculação podem ser realizadas via tratamento de sementes ou sulco de semeadura.
Maiores cuidados devem ser tomados quando realizada a inoculação ou coinoculação da soja via tratamento de sementes, visto que podem ser utilizados tanto inoculantes líquidos quanto turfosos. Quando se optar pelo uso de inoculantes turfosos, deve-se utilizar uma solução adesiva juntamente as sementes, a exemplo da solução açucarada, para proporcionar adequada adesão entre inoculantes e sementes.
O correto é preparar uma solução açucarada a 10% e usar 200 a 300 mL/50 kg de sementes para umedecer e dar aderência; na sequência, adicionar o inoculante turfoso, misturar bem e deixar as sementes secarem à sombra (Prando et al., 2019). Agronomicamente, em hipótese alguma recomenda-se que o inoculante seja adicionado diretamente na caixa de semeadura da semeadora. Conforme destacado por Prando et al. (2019), uma inoculação ou coinoculação bem feita pode proporcionar ganhos de produtividade de até 8% e 16% respectivamente.
Controle de pragas e plantas daninhas
Uma das principais estratégias do manejo de plantas daninhas na cultura da soja é a semeadura da cultura “no limpo”, ou seja, sem a presença de plantas daninhas na área de produção. Sendo assim, pode-se realizar a dessecação em pré-semeadura da soja, utilizando herbicidas registrados para a cultura, podendo ainda realizara a aplicação de inseticidas visando o controle de pragas iniciais da soja, já presentes na lavoura. Planta daninhas a exemplo do caruru (Amaranthus spp.) podem causar redução de produtividade de até 79% na cultura da soja (Gazziero & Silva, 2017).
Semeadura
O processo de semeadura é uma das práticas de manejo mais importante da cultura da soja, podendo impactar componentes de produtividade como o número de plantas por área (Zanon et al., 2018). Dentre os fatores de importância no processo de semeadura, deve-se atentar para a regulagem da semeadora, espaçamento entre linhas e profundidade de semeadura.
Outro fator que merece atenção é a distribuição de sementes, sendo essa, influenciada pela velocidade de semeadura conforme observado por Gazel et al. (2017) e Jasper et al. (2011), onde ambos os autores evidenciaram que o aumento da velocidade de semeadura reduz a porcentagem de espaçamentos aceitáveis, podendo aumentar o número de espaçamentos falhos ou duplos, impactando a produtividade da soja.
Figura 3. Regularidade de distribuição Longitudinal de Sementes de soja em função da velocidade de semeadura.
Fonte: Gazel et al. (2017)
Embora semeadoras modernas possibilitem a semeadura em maiores velocidades, recomenda-se a velocidade de descolamento de 4 a 6 km.h-1 (PAS Campo, 2005). Outro fato importante relacionado a implantação da cultura é que no caso de utilização de soja RR2, deve-se adotar áreas de refúgio (Aprosoja-MT).
Com base nos aspectos observados, pode-se dizer que a implantação da lavoura de soja requer vários cuidados para um bom estabelecimento da cultura, sendo de suma importância a adequação das práticas de manejo, visando proporcionar as melhores condições possíveis para o estabelecimento da soja, dentro das condições disponíveis.
Referências:
APROSOJA MATO GROSSO. SEMEADURA DE SOJA. Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso.
CARVALHO, I. R. et al. DEMANDA HÍDRICA DAS CULTURAS DE INTERESSE AGRONÔMICO. REGULARIDADE DE DISTRIBUIÇÃO EM DIFERENTES VELOCIDADES DE SEMEADURA DE SOJA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO. Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia CONTECC, 2017.
GAZZIERO, D. L. P.; SILVA, A. F. CARACTERIZAÇÃO E MANEJO DE Amaranthus palmeri. Embrapa, Documentos, n. 384, 2017.
GITTI, D. C.; ROSCOE, R. MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e produção: Soja 2016/2017, 2017.
JASPER, R. et al. VELOCIDADE DE SEMEADURA DA SOJA. Eng. Agríc., Jaboticabal, v.31, n.1, p.102-110, jan./fev. 2011.
PAS CAMPO. MANUAL DE SEGURANÇA E QUALIDADE PARA A CULTURA DA SOJA. Embrapa, Transferência de Tecnologia, 2005.
PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium e Azospirillum NA SAFRA 2018/2019 NO PARANÁ. Embrapa, Circular Técnica, n. 156, 2019.
TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMETNO VEGETAL. Porto Alegre, ed. 6, 2017.
ZANON, A. J. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, ed. 1, 2018.
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