Conhecidos popularmente como pragas de solo, os nematoides na cana-de-açúcar parasitam nas raízes. O resultado é um sistema radicular debilitado e que não será capaz de fornecer água e nutrientes suficientes para o desenvolvimento pleno da cana-de-açúcar, que crescerá fraca e pouco produtiva.
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Silenciosos e invisíveis a olho nu, os nematoides na cana-de-açúcar ainda são negligenciados por parte da comunidade canavieira. No entanto, essa praga figura como um dos principais fatores redutores de produtividade agrícola da cultura, podendo ocasionar perdas na ordem de 20 toneladas de cana por hectare (TCH) em cana-planta, de 10 a 12 TCH em cana- soca ou até maiores em variedades susceptíveis.
Além da perda de produtividade, um canavial infestado por nematoides terá sua longevidade reduzida. Esses danos afetam seriamente a rentabilidade do produtor rural e da unidade agroindustrial, pois, com menor volume de cana, haverá redução de renda, menor quantidade de matéria-prima para diluir o custo de produção e, ainda, será preciso antecipar a renovação do canavial.
Mundialmente, cerca de 300 espécies, dentro de 48 gêneros, já foram associadas à cultura. No Brasil, os nematoides mais “problemáticos” na cana-de-açúcar atualmente são os das galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica) e os das lesões radiculares (Pratylenchus zeae e P. brachyurus). Estimativas apontam que mais de 70% dos canaviais do país possuam, ao menos, uma espécie de grande importância.
DESINFORMAÇÃO SOBRE NEMATOIDES NA CANA-DE-AÇÚCAR ATRAPALHAM O SEU CONTROLE
Não só o fato de ser invisível atrapalha a identificação de um canavial infestado por nematoides, mas também informações erradas, como a de que os nematoides matam a planta. Especialistas afirmam que essa praga causa redução de produtividade agrícola, levando a um canavial desuniforme, mas não morto. Essa desinformação, de que os nematoides matam a planta, é um dos principais fatores que levam muitos profissionais do setor a negligenciar esses invasores.
Outro agravante é que seus danos podem ser facilmente confundidos com deficiências nutricionais e fisiológicas de outras origens, como o déficit hídrico; e sua impossibilidade de detecção na indústria, como no caso do complexo broca-podridão.
Há quem afirme que as infestações de nematoides ocorrem unicamente em solos arenosos. Entretanto, os nematologistas observam que os nematoides não têm essa preferência. O que existe é um potencial de dano menor em canas plantadas em ambiente favorável ao seu desenvolvimento, assim são mais tolerantes aos ataques.
Mais uma crença é a de que esses inimigos reduzam a produtividade apenas da cana-planta. Uma inverdade que pode custar caro, já que soqueiras também são amplamente afetadas pela praga.
COMO IDENTIFICAR NEMATOIDES NA CANA-DE-AÇÚCAR
Nematologistas explicam que, o principal indicativo de altas infestações dessa praga é a baixa produção em um canavial que, supostamente, deveria estar produzindo bem mais. Uma variedade corretamente alocada, tratos culturais bem-feitos e um solo sem deficiências ou restrições são fatores chave para uma boa produtividade agrícola. Se, mesmo assim, a cana não “decola”, é possível que sua área esteja sendo atacada por esses inimigos. Falhas de plantio, raízes necrosadas ou com galhas, plantas menores, raquíticas, cloróticas, com sintomas de “fome de minerais” e murchas nas horas mais quentes do dia também podem ser indícios da presença de nematoides.
No entanto, para um diagnóstico correto e detalhado – que mostrará não somente a ocorrência de infestações, mas também níveis populacionais e espécies presentes -, é necessária a realização de uma amostragem de solo e raiz, enviando o material colhido para um laboratório qualificado a fim de ser analisado por um nematologista.
A recomendação é que essas amostragens sejam feitas nos períodos chuvosos (primavera e verão), quando as condições de temperatura e umidade são propícias para um bom desenvolvimento da cana-de-açúcar e, consequentemente, dos nematoides. Amostras coletadas em época seca podem levar a um diagnóstico errado, uma vez que as populações tendem a reduzir drasticamente nessas condições, já que muitas raízes morrem em decorrência da falta de umidade no solo.
NEMATICIDAS DEVEM SER UTILIZADOS DO PLANTIO ÀS SOCAS
Após a confirmação da presença de infestação por nematoides na cana-de-açúcar, os pesquisadores afirmam ser essencial entrar com ferramentas de controle, para que o canavial possa expressar seu máximo potencial produtivo. Métodos culturais, químicos, biológicos são aliados na busca desse objetivo, integrando o que chamamos de manejo integrado de nematoides.
O uso de variedades de cana menos suscetíveis, a descompactação do solo, controle de plantas daninhas hospedeiras e a adoção de rotação de culturas, sobretudo com cultivos não hospedeiros, como a Crotalaria spectabilis e a Crotalaria breviflora, são alternativas culturais que auxiliam na supressão das populações. Porém, mesmo com a adoção desses métodos, não se pode renunciar ao uso de nematicidas. Devendo ser aplicados do sulco de plantio às soqueiras subsequentes (especialmente nas mais novas), visando um controle muito mais eficiente das infestações.
O Representante Técnico de Vendas (RTV), Brunno Daniel Duarte Alves, conta que, há alguns anos, eram poucos os profissionais que adotavam nematicidas para o controle de nematoides. E muitos daqueles que apostavam na ferramenta, a empregavam apenas no sulco de plantio. “Desde então, temos visto uma mudança de ideologia. Hoje, esse tipo de produto tem se tornado obrigatório para aqueles que buscam produzir cana-de-açúcar com excelência.”
Atualmente, o mercado nacional conta com nematicidas químicos e biológicos para o manejo de nematoides na cana-de-açúcar. Os primeiros recomendados para um “tratamento de choque”, utilizados principalmente em áreas com infestações de alto nível de dano econômico. No entanto, para uma maior perpetuidade do controle, os biológicos se mostram como a melhor opção.
“O efeito residual dos químicos gira em torno de 30 a 60 dias. Mas, se queremos que a cana permaneça produtiva por, no mínimo, cinco anos, resolver o problema por apenas dois meses não é interessante. Essa é a principal falha desses produtos, pois uma vez que suas moléculas forem lixiviadas ou degradadas, e as raízes se desenvolverem fora da zona de aplicação,não haverá mais controle, e os nematoides poderão se alimentar e reproduzir livremente”, analisa Alves.
Os nematicidas biológicos, principalmente aquelas à base de fungos, por sua vez, entregam um maior período de proteção, permanecem no solo por muito mais tempo trazendo vários outros benefícios como a indução de resistência e o melhor aproveitamento dos nutrientes do solo. “Sem falar que a utilização desse tipo de produto permite uma produção seguindo rígidos critérios de sustentabilidade, o que pode abrir novos mercado e melhorar a nota da usina dentro do RenovaBio.”
O Brunno Daniel Duarte Alves, explica que o principal problema concernente ao controle de nematoides é sua alta capacidade de reprodução através de ovos. Estima-se que cada fêmea da espécie das lesões radiculares pode botar cerca de 80 a 100 ovos por ciclo, enquanto as fêmeas das galhas, por volta de 1000 ovos. Com um ciclo que varia de duas a seis semanas, a multiplicação das populações ocorre de forma extremamente rápida e preocupante, tornando complicada a “vida” da maioria dos nematicidas, principalmente dos químicos com seu curto residual.
Para solucionar este problema, os produtores contam com o nematicida microbiológico Rizotec. À base do fungo Pochonia chlamydosporia (CEPA PC-10), o produto se destaca por dois grandes fatores: ação ovicida e possibilidade de utilização em condições adversas, como nas épocas mais secas do ano. Sendo altamente efetivo no parasitismo de ovos de Nematoides de Galhas.
“Existem biológicos que criam um biofilme ao redor das raízes a fim de evitar a penetração dos nematoides. Outros atuam no fortalecimento das paredes celulares ou na criação de mais massa de raiz. O problema dessas tecnologias é que elas não possuem ação direta na redução das populações. Já o Rizotec atua na raiz do problema, devido a sua capacidade de parasitar ovos dos diferentes gêneros de nematoides, suprimindo de fato as infestações.”
A segunda característica principal do Rizotec são os clamidósporos, sua estrutura de resistência, que permite aplicação em condições climáticas adversas, como temporadas de seca. “Embora a pressão de nematoides seja menor quando há falta de umidade, o produto seguirá no solo, atuando sobre os nematoides presentes e garantindo controle no momento do retorno das chuvas.” Além disso, a estruturas de resistência, junto a capacidade saprofítica do fungo, ou seja, capacidade de se alimentar de matéria morta fazem com que o fungo consiga atuar durante todo o ciclo da cultura.
Alves relata que o Rizotec possui também efeito na colonização de fêmeas e capacidade de interagir beneficamente com as raízes das plantas. “Juntas, suas características entregam incrementos médios de produção na ordem de nove toneladas de cana por hectare, devolvendo saúde a seu canavial, bem como rentabilidade ao seu negócio.”
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