O milho (Zea mays) é cultivado de Norte a Sul do Brasil, desempenhando importante papel econômico, social e sustentável em propriedades rurais. Embora com distintas finalidades e tipos, sendo cultivado tanto para a produção de silagem quanto milho doce para consumo in natura, na grande maioria das propriedades agrícolas o milho grão predomina no sistema de produção, em rotação de culturas com a soja ou segunda safra (safrinha).
Não consegue ler agora? Aproveita então para ouvir a versão em áudio deste post no player abaixo:
Entretanto, embora a muito tempo cultivada e amplamente difundida, a cultura do milho demanda de alguns cuidados para que boas produtividades sejam obtidas, sendo necessário atentar para algumas práticas de manejo e tratos culturais, a exemplo da adubação, semeadura, manejo de pragas e de doenças.
Adubação do milho
Para que a planta de milho possa expressar seu potencial produtivo, sem ficar limitada a deficiências nutricionais, o adequado manejo e aporte nutricional é fundamental para a obtenção de boas produtividades. O manejo da adubação do milho tem início ainda no período anterior a semeadura, sendo necessário realizar a análise química da fertilidade do solo para identificar os teores nutricionais e possíveis pontos de intervenção.
A dose de fertilizantes utilizadas para a adubação da cultura do milho deve levar em consideração os resultados obtidos na análise química da fertilidade do solo, extração de nutrientes pela cultura, expectativas de produtividade e recomendações técnicas para cada região de cultivo, tipo de solo e finalidade da produção.
Figura 1. Extração média de nutrientes pela cultura do milho destinada a produção de grãos e silagem em diferentes níveis de produtividade.
Além do adequado aporte nutricional, é fundamental garantir o adequado acesso da planta aos nutrientes fornecidos. Para isso, deve-se adequar os níveis de pH quando necessário, sendo recomendado trabalhar com valores de pH em água do solo variando entre 6 e 6,5. Conforme destacado por Gitti; Roscoe; Rizzato (2018), o pH do solo exerce forte influência sobre a disponibilidade de nutrientes no solo, sendo que solos com pH inadequado podem restringir o acesso das plantas aos nutrientes, mesmo estando esses presentes no solo em quantidades abundantes.
Partindo do pressuposto que o solo apresente o pH ideal para o cultivo do milho ou foi devidamente corrigido mediante calagem, a adubação do milho deve concentrar os macronutrientes Fósforo (P) e Potássio (K) na base de semeadura e parte do Nitrogênio (N) requerido pelo milho, para que a cultura possa ter amplo acesso a esses nutrientes ainda nos estádios iniciais do seu desenvolvimento. Para o Potássio, existe limitação da quantidade que pode ser utilizada no sulco de semeadura, assim, se houver demanda acima desse valor limite, devemos utilizar a aplicação em superfície (lanço) do saldo restante.
O N em específico, por ser o nutriente mais requerido pelo milho, pode ser parcialmente fornecido na adubação de base e o restante em cobertura, em pós-emergência do milho. De modo geral, recomenda-se que a adubação nitrogenada em cobertura no milho seja realizada de V4 a V6. Em casos onde elevadas doses são necessárias, pode-se realizar o parcelamento da adubação nitrogenada, aplicando 50% da dose quando as plantas estiverem V4 a V6, e os 50% restante entre os estádios V8 a V9.
O adequado posicionamento da adubação em milho é fundamental para potencializar a formação de componentes de produtividade da cultura. No estádio V4 tem início o processo de diferenciação floral, que origina os primórdios da panícula e da espiga, bem como dá início à definição do potencial produtivo da espécie (Fancelli, 2015).
Tabela 1. Estádios críticos do crescimento e seus componentes para definição da produção de milho.
1Potencial de massa de grãos = é definido quando a divisão acontece no endosperma, 7 a 10 dias após a polinização (R1-R2 ou “fase de latência” da curva de crescimento sigmoidal de grãos). 2R1 = Potencial de óvulos ou potencial do número de grãos, se não houver estresse afetando a polinização ou a fase de desenvolvimento final de grãos. 3Fábrica = Após o início do pendoamento em V5, todas as partes da planta de milho já estão desenvolvidas para suportar a espiga e o desenvolvimento de grãos.
Fonte: Ciampitti; Elmore; Lauer (2016)
Semeadura do milho
Tecnicamente, tanto milhos de Variedades de Polinização Aberta (VPAs), quando híbridos (simples, duplo ou triplo) podem ser utilizados em lavouras de milho, ambos com diferentes propostas. Em lavouras comerciais, normalmente os híbridos de milho são os mais cultivados por apresentarem maior resistência genética a pragas, doenças e em alguns casos a herbicidas.
Entretanto, além de definir a cultivar e a densidade populacional, assim como os conhecidos critérios como umidade do solo, temperatura e profundidade de semeadura, é fundamental atentar para o período de semeadura a fim de reduzir perdas decorrentes de riscos climáticos. Para isso, deve-se seguir as orientações presentes no Zoneamento Agrícolas de Risco Climático (ZARC), para cada região de cultivo. Além disso, estratégias como a rotação de cultivares em diferentes áreas e talhões é fundamental para reduzir perdas de produtividade por fatores climáticos e ambientais, ou para o manejo da resistência de pragas, doenças e plantas daninhas.
Manejo de plantas daninhas
Plantas daninhas competem com o milho por recursos como água, radiação solar e nutrientes do solo, podendo exercer uma relação de dominância sobre a cultura caso não sejam devidamente controladas. Embora diversas espécies possam matocompetir com o milho, por apresentar maior similaridade com a cultura, as plantas pertencentes a família Poaceae são as mais complexas de controlar em meio ao milho.
Espécies como o capim-amargoso (Digitaria insularis), apresentam elevado potencial competitivo. Conforme observado por Hass et al. (2020), 1 planta m-2 pode causar perdas de produtividade de aproximadamente 8% em milho, e a medida em que a densidade populacional da daninha aumenta, tem-se reduções de produtividade do milho, podendo chegar a valores de até 30 sc ha-1 (18%) sob infestações de 6 plantas m-2 de capim-amargoso.
Atrelado a isso, plantas como capim-amargoso, buva (Conyza spp.) e caruru (Amaranthus spp.), apresentam relatos de resistência a diferentes herbicidas e mecanismos de ação de herbicidas, fato que dificulta ainda mais o controle eficiente dessas plantas daninhas. Embora com o adequado posicionamento de herbicidas e o período de controle as plantas daninhas possam ser controladas em pós-emergência do milho, estratégias como a semeadura da cultura “no limpo” e o uso de herbicidas pré-emergentes são fundamentais para evitar perdas produtivas.
Manejo de pragas
Conforme destacado por Cruz et al. (1995), pragas iniciais, da parte aérea e da espiga do milho podem ser observadas ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura. Os danos vão desde a redução do estande de plantas pelo consumo de plântulas até a redução do potencial produtivo da cultura pelo consumo e depreciação de folhas, espigas e grãos de milho.
Levando em consideração a grande diversidade de pragas que acometem a cultura, o monitoramento intensivo das áreas de produção constitui a base do manejo de pragas. Além disso, biotecnologias como o milho Bt (Bacillus thuringiensis) podem contribuir significativamente para o manejo de pragas, especialmente lagartas. Entretanto, no caso do milho Bt, deve-se seguir as orientações do cultivo de áreas de refúgio para garantir a manutenção da eficácia da tecnologia.
Além disso, estratégias como a rotação de culturas, o controle de plantas daninhas espontâneas, a padronização das datas de semeadura e o tratamento de sementes, são imprescindíveis para o manejo das pragas do milho, principalmente se tratando de pragas com elevado potencial em causar danos como a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) que é o único inseto vetor dos molicutes (espiroplasma e fitoplasma) causadores dos enfezamentos na cultura do milho.
Manejo de doenças
Em um passado não muito distante, era um tanto quanto incomum ouvir falar em aplicações de fungicidas na cultura do milho. Entretanto, com o avanço dos casos de resistência de fungos a fungicidas e a intensificação dos cultivos, no período atual, mesmo havendo certa resistência genética de cultivares de milho a patógenos, o manejo de doenças no milho com o emprego de fungicidas é fundamental para a manutenção do potencial produtivo da cultura, reduzindo perdas produtivas e qualitativas dos grãos e sementes produzidas.
Com isso em vista, principalmente em sistemas intensivos de cultivo, o adequado programa e posicionamento de fungicidas é essencial para reduzir a incidência de doenças no milho. Para tanto, aconselha-se fazer uso de diferentes grupos de fungicidas sempre que possível, contribuindo assim, para o manejo da resistência de doenças a fungicidas.
Além disso, deve-se priorizar o uso de sementes com qualidade sanitária conhecida, reduzindo as fontes de inóculo para a lavoura, bem como realizar o adequado tratamento de sementes com fungicidas registrados para o milho. Dependendo da natureza do patógeno, a rotação de culturas pode ser eficiente, entretanto, se tratando de fungos que sobrevivem em resíduos culturais, a rotação de culturas pode não ser suficiente para reduzir a incidência de doenças no milho, sendo necessário fazer uso do controle químico.
Embora demande uma séria de cuidados, o milho é uma cultura essencial para o sistema de produção agrícola, contribuído diretamente para a manutenção e sustentabilidade do sistema plantio direto. Logo para que a cultura também exerça papel econômico na propriedade, é necessário adotar medidas adequadas de manejo para que boas produtividades sejam obtidas, contribuindo assim, para a rentabilidade e lucratividade do cultivo.
Referências:
CIAMPITTI, I. A.; ELMORE, R. W.; LAUER, J. FASES DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DO MILHO. Kansas State University Agricultural Experiment Station and Cooperative Extension Service, 2016.
COELHO, A. M. NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DO MILHO. Embrapa, Circular Técnica, n. 78, 2006.
CRUZ, I. et al. PRAGAS: DIAGNÓSTICO E CONTROLE. Seja o Doutor do seu Milho, Nutrição e Adubação. POTAFOS, Arquivo Agronômico, n. 2, 1995.
DUARTE, A. P. et al. CONCENTRAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE NUTRIENTES NOS GRÃOS DE MILHO. IPNI, Informações Agronômicas, n. 163, 2018.
FANCELLI, A. L. MANEJO BASEADO NA FENOLOGIA AUMENTA EFICIÊNCIA DE INSUMOS E PRODUTIVIDADE. visão agrícola n, 13, 2015.
GITTI, D. C.; ROSCOE, R.; RIZZATO, L. A. MANEJO E FERTILIZADADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2018/2019, 2019.
0 comentários