Fisiologia aplicada para a cultura do amendoim

A cultura do amendoim (Arachis hipogaea L.) é originário da américa do sul tendo boa adaptação para as condições edafoclimáticas do Brasil. Os principais fatores climáticos que afetam o crescimento e desenvolvimento da planta são temperatura, radiação e disponibilidade hídrica. Adicionalmente, o amendoim é considerado uma planta com alta eficiência no uso da água, nutrientes e radiação. As cultivares modernas tipo Runner (porte rasteiro) têm alto potencial produtivo (9 ton ha-1 de amendoim em casca – 870 sacas por alqueire), mas dificilmente se obtém essas produtividades em áreas comerciais de larga escala, e o melhor entendimento da fisiologia de plantas pode reduzir o “Yield Gap” (quebra de produtividade).

Temperatura

A temperatura é o principal fator que influencia o crescimento e desenvolvimento do amendoim. A temperatura base para cultura do amendoim é de 13ºC enquanto que o limite térmico é de 33ºC, ou seja, quando a temperatura está fora dessa faixa, a atividade fisiológica é menor ou quase nula. A faixa entre 20-25ºC noturna e 30-35ºC diurna, tendo assim temperatura média entre 25 e 30ºC, é considerada ótima para o amendoim. Além disso, maiores amplitudes térmicas (noites frescas e dias quentes) tendem a melhor a atividade fisiológica, produtividade e qualidade do amendoim. 

Baixas temperaturas (menores que 30ºC) no momento da implantação da cultura do amendoim resulta em atraso na germinação e emergência das plântulas. Esse atraso pode reduzir a taxa de germinação e emergência, principalmente em sementes de baixo vigor fisiológico. Assim, a semeadura realizada entre agosto e início de setembro na região sudeste do Brasil normalmente sofre um atraso na emergência das plântulas.

Na fase vegetativa, baixas temperaturas (< 30ºC) retardam o florescimento, deixa o ciclo mais longo; quando sob altas temperaturas, a planta acelera a emissão da primeira flor e o seu crescimento. A precocidade da planta e crescimento do dossel também são favorecidas pela menor amplitude térmica. Entretanto, apesar de maiores temperaturas melhorarem o crescimento vegetativo, resultam também em maior abortamento de flores; reduzindo consequentemente o número de vagens por planta (principal componente de produção do amendoim). Adicionalmente, altas temperaturas noturnas (maiores que 25ºC) na fase de enchimento das vagens, resulta em grãos mais leves e menor rendimento de grãos, além de sementes com menor reserva de açúcares e óleo. Isso ocorre pois sob altas temperaturas a taxa de respiração noturna é maior, o que leva a maior consumo de energia para manter a atividade fisiológica das plantas e acaba “sobrando” menor quantidade de energia para os frutos.

Temperaturas do solo inferiores a 31ºC tendem a reduzir a taxa de crescimento das vagens e atrasar a maturação, ou seja, induzindo ao alongamento do ciclo da cultura. Assim técnicas como o Plantio na Palha que conserva a superfície do solo com temperaturas menores, prolonga a maturação das vagens.

Disponibilidade hídrica

O amendoim é considerado uma planta tolerante ao déficit hídrico, mas há necessidade de ocorrência de precipitação regular, principalmente na fase de formação e enchimento das vagens. Estima-se que para cultivares de ciclo precoce nas condições brasileiras sejam necessários entre 600 e 500 mm durante o ciclo da cultura do amendoim, desde que seja bem distribuído.

Na fase vegetativa (entre VE e R1) a demanda hídrica é relativamente baixa – 3,5 mm dia-1, porém a seca extrema nessa fase resulta em menor taxa de crescimento radicular e menor formação de nódulos nas raízes, levando a uma menor fixação de nitrogênio. Por outro lado, alto índice pluviométrico reduz o crescimento radicular em profundidade, deixando o amendoim mais sensível na seca em fase reprodutiva. Entre os estádios R2 e R5 onde ocorre florescimento, formação das vagens e grãos, o consumo hídrico diário é de aproximadamente 4,8 mm dia-1. Nesse caso a seca afeta negativamente o número de vagens por planta e de grãos por vagem, além de reduzir a absorção de cálcio pelas vagens, uma vez que há absorção de cálcio direta via vagens/ginóforos. A maior taxa de consumo hídrico diário ocorre entre os estádios R6 e R7 fases de enchimento das vagens – 6,0 mm dia-1. Isso porque há alto gasto energético para enchimento dos grãos que são ricos em óleo e proteína. Assim, a ocorrência de seca durante esses estádios, aumentam os prejuízos na produtividade e qualidade. Na fase de maturação das vagens R8-R9 o consumo hídrico é mínimo – 2,5 mm dia-1. Durante essa etapa não são interessantes altos índices pluviométricos, a fim de preservar a qualidade de grãos e facilitar o processo de arranquio e recolhimento da produção.

Técnicas que melhorem o crescimento radicular em profundidade, como, ausência de compactação do solo e nutrição adequada principalmente em cálcio, fósforo, boro e zinco, resultam em lavouras com maior tolerância à seca. Além disso, o controle do crescimento do dossel, resulta em menor consumo de água, devido a menor transpiração “perda de água”, ou seja, não é interessante lavouras com crescimento de parte aérea exagerado, e isso pode ser ajustado através do manejo da adubação, densidade de plantas, espaçamento entre linhas e sistemas de semeadura.

Luminosidade e Fotoperíodo

O amendoim tem baixa sensibilidade ao fotoperíodo, sendo considerado uma planta de dia neutro. Entretanto, há alta demanda por energia luminosa, principalmente na fase reprodutiva da cultura. Para a máxima produtividade, seria adequado entre 12 e 16 horas de radiação solar pra cultura. Uma vez que, a maior oferta de radiação melhora a taxa fotossintética da planta e síntese de carboidratos.

Para melhorar a eficiência do uso da radiação, o primeiro passo é ajustar a época de semeadura, com objetivo de deixar o amendoim no campo em um período onde haja maior oferta luminosa. Levando como base o estado de São Paulo, a melhor época de semeadura seria início de outubro, pois o período de enchimento das vagens aconteceria entre os meses de dezembro e janeiro, coincidindo com dias mais longos e maior oferta de radiação. Outro ponto importante é o ajuste do espaçamento entre linhas a fim de fechar o dossel o quanto antes, para maximizar a interceptação da energia luminosa.

O excesso de chuvas associado à dias nublados prejudica a atividade fisiológica do amendoim devido à baixa radiação. Além disso, o crescimento exagerado da parte aérea dificulta a penetração da luz no dossel, aumentando as chances de incidência de doenças e também reduzindo a taxa fotossintética das folhas do terço inferior da planta.  

Considerações finais

Técnicas que visem melhorar o crescimento radicular, como correção do solo e nutrição mineral adequada são fundamentais para aumentar a eficiência no uso da água pelo amendoim e tolerância a altas temperaturas, uma vez que a água controla a temperatura interna na planta. Enquanto que a nutrição equilibrada associada à época correta de semeadura, ajuste da população de plantas e espaçamento entre linhas adequado melhora a interceptação da energia luminosa, maximizando a taxa fotossintética, produção de carboidratos e produtividade da cultura.

Carlos Felipe S Cordeiro

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