A cultura da soja é assolada por uma série de doenças que causam perdas econômicas significativas. Algumas dessas doenças na soja são causadas por patógenos considerados necrotróficos, ou seja, que possuem a habilidade de sobreviver em restos culturais e que também podem ser transferidos via sementes. Há também os patógenos biotróficos, que sobrevivem somente em tecido vivo, assim, estes necessitam de um hospedeiro vivo para se desenvolver no sistema. Os hemibiotróficos são um terceiro grupo de patógenos, que tanto sobrevive como se multiplica em restos culturais.
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Os patógenos necrotróficos, por sobreviverem nos restos culturais, vêm causando danos cada vez mais significativos com o passar dos anos, tendo em vista a quantidade de lavouras em sistema de monocultivo sucessivo de soja. Neste grupo, temos Septoria glycines, causador da septoriose – também chamada de mancha parda –, e Cercospora kikuchii, responsável por causar o crestamento foliar por cercospora. São duas doenças do grupo das DFCs, as doenças de final de ciclo, porém, estão sendo identificadas nas lavouras cada vez mais cedo, em função deste aumento de inóculo inicial nos restos culturais e da transmissão via semente.
Doenças na soja: Mancha-alvo
Outro patógeno que pode ser transmitido via semente e que sobrevive nos restos culturais é o Corynespora cassiicola, causador da mancha-alvo (Figura 1), que preocupa principalmente o sojicultor do Cerrado brasileiro, onde a doença apresenta maior ocorrência e severidade. Porém, nesta safra (2020/21), esta doença também teve destaque no Rio Grande do Sul, causando perdas significativas de produção. Condições ambientais de alta umidade favorecem a infecção do patógeno nas folhas de soja.
Figura 1. Mancha-alvo (Corynespora cassiicola) em soja. Fonte: Mônica Debortoli.
Antracnose
A antracnose (Figura 2) é outra doença importante em todas as regiões produtoras da oleaginosa, transmitida via semente e causada pelo patógeno que, por ser hemibiotrófico, pode se multiplicar na entressafra, apresentando assim um potencial de dano muito elevado. São duas as espécies causadoras de antracnose, o Colletotrichum truncatum e o C. clivan, sendo o primeiro mais comum e o segundo, que foi identificado recentemente, apresenta uma frequência maior no sistema e alta agressividade. Seus sintomas iniciam na nervura da folha, migrando posteriormente para o pecíolo, e causam a quebra da folha, sendo o dano ainda maior quando o patógeno chega no legume, levando ao abortamento do legume e comprometendo a produção de soja. Nos anos em que o período reprodutivo da soja coincide com altas precipitações, a doença é favorecida e o dano é ainda maior.
Figura 2. Antracnose (Colletotrichum truncatum) em vagem de soja. Fonte: Nedio Tormen.
Doenças na soja: Oídio e ferrugem asiática
Já o oídio e a ferrugem asiática são causados por patógenos biotróficos, dependendo de um hospedeiro vivo para serem transmitidos de uma safra para outra, e também configuram doenças importantes na cultura da soja.
A ferrugem asiática (Figura 3), causada pelo patógeno Phakopsora pachyrhizi, apresenta alto potencial de dano, que pode chegar a 50%. Outra característica da doença é levar a uma rápida desfolha, podendo derrubar todas as folhas em até 15 a 20 dias. Quanto mais cedo ocorrer a queda das folhas, menor será o tamanho dos grãos e maior será a perda de rendimento e a qualidade. Para que o fungo infeccione a planta, é necessário que haja, ao menos, 6 horas de molhamento foliar, de forma que um período de 10 a 12 horas permite o máximo de infecção. Temperaturas entre 15 e 28 °C são as ideais para a ocorrência da doença.
Figura 3. Ferrugem asiática em folha de soja. Fonte: Marcelo Gripa Madalosso.
Já as perdas causadas pelo patógeno Erysiphe diffusa, causador do oídio, estão relacionadas às condições ambientais, como condições de temperatura amena, maiores altitudes e amplitude térmica, não tolerando altas temperaturas. Sua severidade também está relacionada à variedade cultivada, naquelas variedades mais sensíveis, a severidade da doença é maior.
Mofo branco
O mofo branco (Figura 4), causado pelo patógeno Sclerotina sclerotium, também é uma doença importante na cultura da soja. Sua ocorrência se dá nas lavouras com altitude acima de 600 metros, e o fungo possui uma estrutura específica que garante sua sobrevivência nos restos culturais e no solo por até 8 anos, o escleródio. Portanto, uma vez introduzido na lavoura, este patógeno apresenta um potencial de dano elevado. Temperaturas mais baixas, abaixo de 20 °C durante 5 a 7 dias e elevada umidade relativa do ar favorecem a doença, quebrando a dormência do escleródio, o que permite a germinação do apotécio e a liberação de esporos do patógeno.
Figura 4. Haste de soja com a presença do micélio branco de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum). Fonte: Mônica Debortoli.
Conhecemos algumas das doenças que são importantes para a cultura da soja pelo seu alto potencial de causar prejuízos econômicos significativos. Ter este conhecimento sobre as características e sintomas de cada doença, assim como as condições ambientais que favorecem ou prejudicam a ocorrência de cada patógeno, é de grande valia para um manejo mais eficiente, pois permite uma tomada de decisão mais assertiva de qual manejo escolher e de quando realizá-lo.
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