A adubação para o feijão é essencial para a obtenção de boas produtividades. O uso de fertilizantes é uma das principais formas de aportar nutrientes ao sistema de produção visando satisfazer as exigências nutricionais da cultura. Além da adubação química, no feijão é possível e interessante a utilização de inoculantes (Rhizobium tropici e Azospirillum brasilense), que dentre vários benefícios visam fornecer de forma sustentável e eficiente nitrogênio (N) à cultura.
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Independente da variedade de feijão, níveis adequados de fertilidade devem ser estabelecidos no sistema de produção para que deficiências nutricionais não venham a ocorrer, limitando a produtividade da cultura. Ainda que a quantidade de fertilizantes empregada em cultivos agrícolas possa variar de acordo com condições de solo, ambiente, cultivar, produtividade e sistema de cultivo, o ideal é acompanhar a fertilidade do solo por meio da realização da análise química da fertilidade do solo.
A análise química da fertilidade do solo serve para quantificar os níveis nutricionais dele, servindo como ponto de partida para a realização de práticas de manejo relacionadas a fertilidade do solo como a calagem, gessagem e cálculos de fertilizantes a serem fornecidos ao sistema. Assim como adequados níveis nutricionais no solo, é preciso que o pH do solo esteja em níveis adequados para que esses nutrientes possam ser disponibilizados para as plantas. Ainda que haja elevados teores de nutrientes no solo, o pH inadequado pode limitar a disponibilidade desses nutrientes para as plantas.
Figura 1. Disponibilidade de nutrientes do solo em função do pH do solo.
Fonte: Embrapa (2013)
Para melhor disponibilidade de nutrientes o ideal é trabalhar com pH entre 6 e 7 em H2O. Caso os níveis observados de pH encontrem-se inferiores a isso ou a recomendação para sua região de cultivo, deve se verificar se há a necessidade da prática da calagem, antes de realizar a adubação e implantação da cultura do feijão. Por ser considerada uma cultura de ciclo relativamente curto, e de rápido acúmulo de matéria seca, o feijão necessita de adequados níveis nutricionais, sendo os nutrientes mais requeridos pela cultura o Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K).
Para a produção de uma tonelada de grãos de feijão são extraídos (grãos + palha) cerca de 36,5 kg de N; 4,2 kg de P; 27,2 kg de K; 7,9 kg de Ca; 3,9 kg de Mg e 4,0 kg de S (Fageria et al., 2007).
Tabela 1. Extrações e exportações de macro e micronutrientes do feijoeiro comum.
Fonte: Fageria et al. (2007)
Com relação ao Nitrogênio, muito se discute em função da necessidade da cultura do feijão e o processo de fixação biológica de nitrogênio, entretanto, embora possa fixar esse nutriente da atmosfera por meio das bactérias fixadoras de nitrogênio, a quantidade pode não ser suficiente para atender às necessidades da planta (Posse et al., 2010). Segundo Brady e Weil (2002) a FBN na cultura do feijão pode contribuir com 50 a 150 kg/ha de N, podendo ou não ser suficiente para atender a demanda de N, dependendo da quantidade fixada e do potencial de produção.
Nesse sentido pode-se haver a necessidade de complementação, que deve ser feita aplicando-se uma parte na época de semeadura e o restante até antes da floração, pois esta é a fase em que o feijoeiro mais necessita de nitrogênio para a formação das vagens e dos grãos (Posse et al., 2010). Normalmente se recomenda a aplicação de 1/3 da dose de N na semeadura, e 2/3 em cobertura (Rosolem & Marubayashi, 1994).
Conforme observado por Haag et al. (1967) e corroborado por Posse et al. (2010), na fase de floração e enchimento de grãos ocorre uma alta demanda de nutrientes pela cultura do feijão, entre eles, o Nitrogênio, sendo assim a o aporte do nutriente é essencial para a obtenção de boas produtividades de feijão. O aumento no acúmulo Fósforo e Potássio também é observado nesses períodos do desenvolvimento do feijão, destacando a importância desses nutrientes para o crescimento e desenvolvimento da cultura.
Figura 2. Quantidade de macronutrientes (Kg) absorvidas por 250.000 plantas (1 ha) em função do seu desenvolvimento.
Fonte: Haag et al. (1967)
Embora características como acúmulo de matéria seca em função do período de desenvolvimento do feijão possam variar de acordo com a cultivar. Fageria e Santos (2008) estudaram a relação de matéria seca da parte aérea (MSPA) com a idade da planta de feijão (cv. Pérola) e observaram que houve um incremento significativo de MSPA até os 78 dias, sendo que até os 60 dias o aumento foi linear. É importante destacar a MSPA esta intimamente correlacionada com a produtividade da cultura.
Figura 3. Relação entre idade da planta e matéria seca da parte aérea (MSPA) de feijão.
Fonte: adaptado de Fageria e Santos (2008)
Embora o nitrogênio seja um dos nutrientes mais requeridos pela cultura, cabe destacar que a atenção com a adubação do feijão não deve ser voltada apenas para este nutriente, e sim para todos o macro e micronutrientes requeridos pela cultura. Por mais que um nutriente esteja presente e disponível em elevada concentração para as plantas, a deficiência de outro, seja ele macro ou micro, pode limitar a produtividade da lavoura.
De maneira geral, a adubação do feijoeiro requer uma série de cuidados e pode estar condicionada a diversos fatores os quais podem intervir de forma direta ou indireta na quantidade de fertilizantes, na disponibilidade de nutrientes às plantas e na produtividade da cultura.
Contudo, cabe destacar que se realizada a análise de solo, corrigido o pH (quando necessário) e realizada a adubação na linha de semeadura e a lanço com base nas recomendações técnicas para a cultura, região de cultivo, solo e expectativa de produtividade, possivelmente não sejam observados maiores problemas referentes a adubação na cultura do feijão.
Em algumas regiões a disponibilidade de fertilizantes orgânicos possibilita a utilização deles no cultivo do feijão, entretanto, quando optar por uso desse tipo de fertilizante, deve-se atentar especial para o cálculo da dose recomendada, assim como os níveis nutricionais desses fertilizantes e sua procedência, uma vez que eles também podem exercer papel na disseminação de sementes de espécies de plantas daninhas.
De forma geral, independente da fonte utilizada do fertilizante, deve-se suprir as exigências nutricionais da cultura para prevenir deficiências nutricionais que possam implicar em redução da produtividade e rentabilidade do feijão.
Referências:
HAAG, H. P. et al. ABSORÇÃO DE NUTRIENTES PELA CULTURA DO FEIJOEIRO. Bragantia, v. 26, n. 30, 1967.
FAGERIA, N. K. et al. 2015. NUTRIÇÃO MINERAL DO FEIJOEIRO. Embrapa, Brasília-DF, 394 p.
NUTRIÇÃO DE SAFRAS. APLICAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE NUTRIENTES.
POSSE, S. C. P. et al. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DO FEIJOEIRO-COMUM NA REGIÃO CENTRAL-BRASILEIRA: 2009 – 2011. Incaper, 2010.
ROSOLEM, C. A; MARUBAYASHI, O. M. SEJA O DOUTOR DO SEU FEIJOEIRO. Potafos, Arquivo Agronômico, n. 7, 1994.
VERA. G. S. et al. ACÚMULO E MARCHA DE ABSORÇÃO DE MACRONUTRIENTES NO FEIJÃO-CAUPI EM SISTEMA DE CULTIVO MÍNIMO. V Congresso Nacional de Feijão Caupi, 2019.
VIEIRA, N. B. M. CRESCIMENTO E MARCHA DE ABSORÇÃO DE NUTRIENTES NO FEIJOEIRO cvs. BRS-MG TALISMÃ E OURO NEGRO, EM PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Lavras, 2006.
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