Aproximadamente 30 a 40 dias se passaram desde a semeadura do algodão. Como vimos no post anterior, a etapa inicial da lavoura de algodão, é crucial para o adequado desenvolvimento da cultura e onde foram estabelecidas bases rígidas para sustentar toda a produção almejada.
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Deste momento em diante, a partir do aparecimento do primeiro botão floral (B1), aproximadamente 40 DAE, inicia-se a fase reprodutiva da cultura do algodão, fase esta que demanda uma grande eficiência de processos.
Você sabia? Uma maçã/capulho a mais por planta de algodão pode representar um incremento aproximado na produtividade de 18 a 25 @/ha (algodão em caroço).
Até o momento, a maior parte da energia produzida pela planta estava direcionada quase que exclusivamente para o crescimento de raízes. A partir de agora, por ocasião do aparecimento do primeiro botão floral na primeira posição do primeiro ramo frutífero, essa dinâmica de reservas tende a se alterar conforme avança o ciclo da cultura.
Aos poucos, grande parte do recurso começa a ser direcionado para o crescimento e desenvolvimento da parte aérea, como uma preparação da planta para “acomodar” todos os frutos que têm potencial de produzir. É de fato uma “mudança de chave”.
Em determinado momento, essas plantas terão que redistribuir suas reservas na manutenção de raízes, permitir alta atividade das folhas (fotossíntese), continuar com a formação de botões florais, atingir o florescimento pleno e iniciar o desenvolvimento das maçãs. E tudo isso ao mesmo tempo, em uma sincronia quase que sinfônica, para que tudo aconteça harmoniosamente.
Geralmente, é por volta de B1 também que iniciam as aplicações de regulador de crescimento, manejo este que exige constante monitoramento da lavoura e leitura de todo o cenário em que a cultura está inserida, não só do que já aconteceu, mas principalmente o que está por vir. Vale lembrar que até esta etapa provavelmente foram realizadas as aplicações de herbicidas e boa parte da adubação de cobertura também já foi posicionada.
Um ponto muito importante que deve ser lembrado neste momento, é que as primeiras aplicações de regulador de crescimento são fundamentais para modular essa planta e permitir uma boa condução do seu crescimento em etapas futuras. Erros ou “escapes” de regulador nas fases iniciais impõem dificuldades significativas para manutenção de taxas de crescimento adequadas e equilíbrio na relação do desenvolvimento vegetativo/reprodutivo.
Você sabia? Vários fatores influenciam na tomada de decisão com relação a dose do regulador de crescimento. Entre eles poderíamos citar: cenário climático (pluviosidade, temperatura, luminosidade, etc), manejo da adubação, situações de estresse, textura do solo, cultivar, taxa de crescimento, número de nós totais, entre outros.
É esperado, desde que mantidas condições favoráveis, que a cada 3 dias surja um novo botão floral na primeira posição do ramo frutífero imediatamente acima. Um botão floral é altamente sensível ao aborto até aproximadamente o 12° dia após sua formação.
Aproximadamente 21 dias, este é o intervalo médio que um botão floral dura até a abertura da primeira flor (F1). E assim como ocorre com o botão floral, a maçã recém-formada por ocasião da fecundação da flor é extremamente sensível ao aborto até o seu 12° dia. Ou seja, condições estressantes como alta nebulosidade (baixa radiação) e/ou temperaturas elevadas (acima de 32°C) podem ocasionar aborto das estruturas em formação, e para tanto existem alternativas de manejo fisiológico e nutricionais que minimizam essas ocorrências.
Você sabia? A duração média de uma folha na planta de algodão é de aproximadamente 60 dias, mas o pico de eficiência fotossintética acontece por volta do 20° dia.
Durante esta fase de desenvolvimento da cultura (B1 a C1), é momento determinante para definição do número de nós e do potencial produtivo relacionado com a capacidade de formação das estruturas reprodutivas. Além disso, é predominante que sejam feitos todos os manejos fitossanitários que garantam uma boa sanidade de folhas e adequado controle de pragas.
Florescimento da cultura do algodão
Por volta dos 60 DAE (dias após emergência) ocorre o aparecimento da primeira flor na primeira posição do primeiro ramo frutífero. Por ocasião do aparecimento da primeira flor branca na planta, podemos fazer algumas inferências sobre a condição de desenvolvimento e crescimento dessa lavoura. Uma planta em boas condições e com equilíbrio de desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, deve possuir entre 8 e 10 nós acima dessa flor. Um número de nós superior a isso pode significar um desbalanço para o crescimento vegetativo, exigindo assim atenção especial ao manejo de regulador de crescimento. Por outro lado, um número de nós inferior a 8 pode representar uma planta com baixo desenvolvimento e que precisa ser estimulada para não entrar em um “cut out” precoce.
Ainda, é possível avaliar como está o dossel dessa lavoura. É desejável que o IAF (índice de área foliar) esteja próximo a 3,5, ou seja, na prática seria o mesmo que visualizar na entrelinha da lavoura, que as folhas do terço médio se tocam, porém não se sobrepõem. Essa referência é importante, pois como é sabido, o auto sombreamento é um estresse muito prejudicial à cultura do algodão e pode ocasionar o aborto de estruturas reprodutivas, prejudicar a relação fonte-dreno, criar um microclima favorável a doenças e dificultar a penetração de defensivos.
Visto a alta complexidade de processos que ocorrem simultaneamente durante a fase do florescimento e a necessidade da distribuição de fotoassimilados, é preciso ter uma planta altamente eficiente. É importante que a lavoura entre nessa etapa da fase reprodutiva com um adequado equilíbrio nutricional, através dos adubos de base e cobertura já realizados, mas também via complementação foliar, principalmente para micronutrientes, que possuem papel relevante na fisiologia e proteção das plantas.
Você sabia? O melhor regulador de crescimento da planta de algodão é o número de frutos formados. Quanto maior o número de maçãs formadas e menor for o abortamento dessas estruturas, maior será o equilíbrio entre crescimento vegetativo e reprodutivo da planta. Isso acontece pois os frutos são drenos fortes e demandam a maior parte dos fotoassimilados produzidos pela planta.
Frutos e posições
Durante o florescimento temos ainda uma atividade radicular importante, precisamos manter as folhas ativas fotossinteticamente, temos botões florais em desenvolvimento, flores sendo fecundadas e logo em seguida maçãs em formação. Toda essa modulação de processos metabólicos é dependente de um equilíbrio hormonal satisfatório. O manejo moderno e estratégico da cultura do algodão exige que interferências fisiológicas sejam feitas para otimizar a capacidade produtiva das plantas e minimizar o impacto negativo dos estresses, o qual podemos destacar o abortamento de estruturas reprodutivas, que pode representar de 60 a 80% de perdas na lavoura.
Para que uma lavoura de algodão tenha alto potencial produtivo, é preciso contar com a participação dos frutos de primeira, segunda e terceira posições, além é claro que todos os estratos (baixeiro, terço médio e ponteiro) precisam ser produtivos e não terem perdas significativas. Nesse sentido, decisões importantes devem ser tomadas conforme o cenário e contexto em que a lavoura se encontra. Por exemplo, em algumas situações é mais prejudicial ficar tentando formar novas posições no ponteiro ao invés de garantir aquela carga produtiva que já possui e que será possível formar completamente e com qualidade.
É sabido que aproximadamente entre o 9° e 14° nó da planta é onde geralmente encontram-se as estruturas mais produtivas (melhor peso e qualidade). Ou seja, de forma geral, as estruturas localizadas no terço médio da planta são aquelas mais representativas na composição da produtividade. Isso se relaciona muito pelo fato de que as posições do baixeiro “sofrem” com auto sombreamento e perdas por apodrecimento. Em contrapartida, o ponteiro muitas vezes é formado em condições desfavoráveis, de menor disponibilidade hídrica e temperaturas mais baixas.
Nessa dinâmica, o terço médio pode expressar uma alta produtividade, desde que as estratégias de manejo utilizadas permitam que manifeste esse potencial. Assim vale destacar novamente, estratégias de manejo que reduzem o abortamento de estruturas reprodutivas são fundamentais para o atingimento de altas produtividades.
Você sabia? As maçãs de primeira posição compõem cerca de 65% da produtividade, as de segunda posição cerca de 28% e as de terceira posição 7%. Ou seja, para altas produtividades, acima de 400@/ha, é preciso preservar o máximo possível de estruturas reprodutivas em todas as posições.
Após a fecundação da flor, inicia-se a formação da maçã. É a partir desse momento que vemos todo o investimento feito ser direcionado para o enchimento dos frutos. A boa formação de raízes lá no início, a proteção e sanidade das folhas, uma nutrição equilibrada, manejo adequado de regulador de crescimento, controle de pragas e todos os outros recursos investidos fazem valer a pena nessa reta final. Isso é manejo estratégico e construção da produtividade.
Vale lembrar nessa fase que desde o aparecimento da maçã até sua maturidade, levam cerca de 50 a 55 dias em média. Desse tempo, a primeira metade é crucial que se tenha água disponível no sistema (e sistema radicular bem formado), pois é o momento de alongamento da fibra que está se formando. Em seguida, na segunda metade, é quando estará ocorrendo a deposição das camadas de celulose nas fibras, momento em que a ocorrência de temperaturas baixas (abaixo de 18°C) pode comprometer significativamente esse processo e repercutir na qualidade da fibra. Durante a fase de enchimento das maçãs o manejo fisiológico, feito através de tecnologias que otimizam esses processos, permite ganhos significativos e maior peso de capulhos.
Você sabia? O fruto (maçã/capulho) pode ter até 5 lóculos (lojas), cerca de 6 a 10 sementes por loja e cada semente pode formar em média de 8 a 12.000 células de fibras.
Detalhes que fazem diferença
A fase reprodutiva da cultura do algodão é umas das mais importantes para a definição e confirmação do potencial produtivo. Uma etapa extremamente sensível e que geralmente ocorre em um cenário de muitas adversidades no campo (alta nebulosidade, altas temperaturas, alta pluviosidade etc.). O manejo estratégico da cultura exige antecipação aos possíveis problemas e é preciso assumir medidas que aumentem a eficiência dessas plantas durante esse período.
A demanda pelo uso de insumos na cultura do algodão é elevada. Entretanto, existem detalhes e estratégias que fazem uma enorme diferença, promovem ganhos e melhoram o aproveitamento de todo esse recurso investido.
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