Lavoura de algodão: entenda como construir uma fibra de qualidade

Para obter uma lavoura de algodão equilibrada, produtiva, eficiente e com fibras da mais alta qualidade, precisamos antes de tudo pensarmos na construção de um alicerce robusto e bem estabelecido desde o início da lavoura.

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Ora, mas porque criar este alicerce é tão importante para a cultura do algodão?

Você sabia que em Dubai encontra-se o arranha-céu mais alto do mundo atualmente, conhecido como Burj Khalifa Bin Zayid, que pode ser visto a 95 km de distância, possui 160 andares e uma altura total de 826 m, o que seria equivalente a aproximadamente 150 colhedoras de algodão empilhadas!

Agora imagine quão robusta e resistente precisou ser a fundação dessa maravilhosa obra da engenharia para sustentar tamanha estrutura? Foi preciso mais de 45.000m³ de concreto, 192 pilares enterrados com mais de 50m de profundidade, muito conhecimento envolvido, planejamento e estratégia.

No caso da  lavoura de algodão, o alicerce pode ser compreendido através de um bom planejamento, um adequado manejo do solo (físico, químico e biológico), excelente desenvolvimento radicular e o cuidado precioso durante as fases iniciais de estabelecimento e desenvolvimento da cultura.

Planejamento

Uma etapa crucial na instalação da lavoura de algodão é a fase de planejamento, e acima de tudo a flexibilidade em readequar o que estava previsto inicialmente frente as condições impostas. Definição do manejo de solo, visão crítica sobre o sistema de produção, planejamento da adubação, seleção de cultivares, escala de semeadura, espaçamento, população de plantas e outras definições precisam ser contempladas nessa etapa.

Entretanto, apesar de todo empenho desprendido para o planejamento, as condições podem se alterar. Esse ano, por exemplo, algumas regiões sofreram com atrasos significativos na instalação da safra de soja o que afetou consideravelmente a janela de semeadura para a cultura do algodão. Diante dessas condições, foi necessário um grande esforço para readequar a programação, por exemplo, com substituição de cultivares, remanejamento da adubação e ajustes na escala operacional.

Uma cultivar tardia já não tem muito espaço se a semeadura avançar demais, com o tempo mais curto, será necessário também formar uma planta mais rapidamente e extremamente eficiente. Talvez, em alguns casos, seja necessário aumentar a população de plantas, em outros será necessário fazer o fechamento com o algodão adensado.

Seja qual for a situação, o conhecimento aplicado e a agilidade de resposta é o que vai definir em quais condições essa lavoura de algodão será implementada e consequentemente como isso irá influenciar no resultado.

A base de sustentação

No artigo anterior, falamos um pouco do conceito de uma “planta 4×4”. Hoje vamos explorar um pouco mais essa visão do sistema radicular que dará sustentação para toda nossa produção.

Você sabia? Uma planta cujo sistema radicular possui 80cm de profundidade tem, aproximadamente, o dobro de dias de capacidade para suportar um estresse hídrico do que uma outra planta, no mesmo ambiente de produção, que possua raízes restritas a 30cm.

As raízes são fundamentais para absorção de água e nutrientes do solo, dão sustentação e são responsáveis por “sinalizar” as condições ambientais para a planta. O algodão por essência é uma planta de origem de ambiente semiárido, entretanto a escassez duradoura de água, assim como restrições físicas ou biológicas que de alguma forma restringem a exploração desse ambiente de solo pela planta, pode resultar em perdas muitos grandes de produção, sobretudo em um momento de alta demanda (relação fonte-dreno) e sensibilidade como ocorre durante a fase reprodutiva.

Ainda sob essa ótica, é importante lembrar que a planta de algodão é altamente sensível a solos encharcados em consequência da baixa oxigenação na zona de raízes. Muitas das regiões produtoras de algodão enfrentam um alto volumes de chuva durante a semeadura e desenvolvimento inicial da cultura, e isso pode resultar em plantas subdesenvolvidas, afetar o estande de plantas e favorecer o desenvolvimento de doenças.
Compactação de solos, desequilíbrio nutricional, ataque de nematoides, pragas e doenças são alguns outros fatores que podem comprometer significativamente o desenvolvimento do sistema radicular e estande de plantas.

Lavoura de algodão: estande inicial de plantas comprometido
Estande inicial de plantas comprometido (compactação, herbicidas, profundidade de sementes, distribuição de plantas e encharcamento no inicio)

Uma planta que possuir raízes comprometidas seguramente será menos produtiva, pois não terá capacidade de sustentar um número satisfatório de estruturas reprodutivas e não conseguirá aproveitar os recursos (água e nutrientes) para o enchimento adequado das maçãs e formação de fibras de qualidade.

Dessa forma, medidas estratégicas de manejo devem ser adotas para prevenir, reduzir ou mitigar esses problemas.

Foto: a esquerda raiz com desenvolvimento adequado. Raiz comprometida por compactação e encharcamento de solo.

Um mal necessário?

Você sabia? Injurias ocasionadas nas fases iniciais de desenvolvimento, como fitotoxidez provocada por herbicidas, pode, além de prejudicar significativamente a atividade das folhas, impactar diretamente no desenvolvimento radicular da sua lavoura de algodão.

Injuria provocada por herbicida
Injuria provocada por herbicida

Houve ao longo dos anos, um avanço significativo em relação a genética e biotecnologia para cultura do algodão. Uma consequência, entre outras, foi que isso permitiu um manejo mais eficiente de pragas e plantas daninhas. O uso de herbicidas é indispensável na maioria das vezes, porém causa danos (visuais ou não) relevantes a eficiência das plantas. É necessário e é possível reduzir o estresse causado por esse manejo.

Outras situações como adubação de cobertura, aplicação de defensivos, adversidades climáticas também podem causar danos as folhas, e comprometer o adequado desenvolvimento dessa planta. É importante lembrar, que toda a produção de energia e alimento da planta é produzido nas folhas, e toda injuria que comprometa essa área foliar irá impactar no potencial produtivo.
É preciso manter essas folhas sadias e preservadas, garantindo a máxima eficiência fotossintética para que sustente o desenvolvimento de raízes e da parte aérea.

Você sabia? O dreno prioritário, ou seja, o local para onde a planta direciona suas reservas, até por volta da 5ª folha, são as raízes. Isso nos indica claramente que o manejo adotado nessa etapa reflete diretamente na qualidade do estabelecimento da lavoura de algodão.

Nessa fase do ciclo, entre a emergência e aproximadamente o B1 (1° botão floral), o ritmo de crescimento da parte aérea (folhas) é relativamente lento, exatamente pelo direcionamento das reservas prioritariamente para as raízes. Contudo, é fundamental que tenhamos plantas vigorosas, ativas e com área foliar preservada.

Os primeiros nós que se desenvolvem na planta de algodão são nós vegetativos e possuem folhas que terão relativamente uma curta duração na planta. É desejável que tenhamos de 5 a 7 nós vegetativos na planta até o aparecimento do primeiro ramo frutífero com botão floral. Um baixo número de nós vegetativos (4 ou menos) pode ser indício de problemas na fase inicial, onde a planta teve poucas condições para o desenvolvimento de raízes e o início da fase reprodutiva (botões florais) foi demasiadamente antecipado. A consequência desse “subdesenvolvimento” será o potencial produtivo já limitado, um “alicerce” restrito além disso pode representar uma dificuldade operacional para a colheita.

Nessa etapa, devem iniciar também as adubações de cobertura, as quais precisam ser programadas levando em consideração qual foi a adubação já adotada na semeadura ou na pré-semeadura, qual a fonte será utilizada, como será distribuído, qual a dosagem e em quais momentos. Talvez seja necessário realizar o parcelamento dessa adubação, pode ser necessário reduzir o intervalo entre as aplicações, ou ainda a situação pode exigir uma complementação adicional para alguns talhões. Isso é manejo estratégico.

Ainda nessa etapa, por ocasião do aparecimento do primeiro botão floral (B1), devem começar as aplicações de regulador de crescimento. Pode ser que inicie após o B1, em alguns casos pode ser que comece até mesmo antes do aparecimento do botão floral.
O uso do regulador (dose e momento) depende de vários fatores como cultivar, da adubação realizada ou que ainda será feita, depende do ambiente, das condições de solo e clima.
Sobretudo o que precisa ficar claro, é que o adequado manejo de regulador de crescimento é fundamental para o crescimento e desenvolvimento equilibrado da planta de algodão. E ainda, vale ressaltar que as primeiras aplicações de regulador são críticas para modular essa planta e determinar o padrão de crescimento que irá refletir em todo o restante do ciclo.

Você sabia? O regulador de crescimento exerce influência na altura de plantas (tamanho dos entrenós), assim como também no tamanho dos ramos e de folhas.

Super – ação!

Aproximadamente 30 a 40 dias se passam entre a emergência e o aparecimento do primeiro botão floral. Temos um período extremamente curto, rápido, que exige muitas operações e que é determinante para nossa produtividade e qualidade de fibras lá na frente.
Algumas ocorrências nessa fase são praticamente inevitáveis, ou não depende apenas da interferência humana. Porém, estratégias pode ser adotas para mitigar os problemas, prevenir as perdas por estresses ocasionados e otimizar a eficiência de plantas durante esta etapa inicial do ciclo.

Isso é manejo estratégico, e exige conhecimento e atitude. Construir uma fundação, uma base, um alicerce robusto e qualificado, é o que dará condições para o desenvolvimento de uma planta capaz de sustentar muitas estruturas reprodutivas com um padrão excelente de qualidade de fibras.

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Ficou interessado? Assista ao vídeo abaixo sobre o desenvolvimento do Algodão!

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