Ciclo do milho: entenda como realizar esse cálculo em dias

Determinadas práticas de manejo na cultura do milho necessitam ser adotadas em diferentes estádios do seu desenvolvimento para suprir as exigências da cultura e/ou promover proteção às plantas contra pragas, doenças e demais agentes que possam causar redução do potencial produtivo. Com isso em vista, o adequado posicionamento dos tratos culturas é fundamental para a obtenção de boas produtividades de milho, sendo comum, relacionar o ciclo de milho em dias do calendário civil.

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A associação do ciclo de desenvolvimento do milho em dias do calendário civil possibilita a ajuste parcial de práticas de manejo e o planejamento delas, assim como o posicionamento de culturas no campo. Entretanto, cabe destacar que em virtude das diferentes condições climáticas, ambientais e latitudes de cultivo, plantas que apresentam resposta ao fotoperíodo e a temperatura podem apresentar variação do ciclo em dias do calendário civil quando cultivadas em lugares distintos, mesmo se tratando da mesma cultivar.

Assim como a maioria das culturas agrícolas, o milho responde as temperaturas cardeais, havendo influência da temperatura em processos metabólicos e fisiológicos da planta. Conforme destacado por Bergamashi & Bergonci (2017), a fotossíntese líquida (assimilação líquida da planta) sofre influência direta da variação de temperatura, sendo que na temperatura ótima definida para a cultura tem-se a fotossíntese liquida máxima (figura 1).

Figura 1. Metabolismo das plantas e temperaturas cardeais: mínima basal ou base inferior (Tb), ótima (Tótima) e máxima basal ou base superior (TB).

Metabolismo das plantas e temperaturas cardeais
 Fonte: Bergonci & Bergamaschi (2002).

Para melhor compreensão, são definidas a temperatura ótima, a basal inferior e a superior para cada cultura cultivada. Abaixo da temperatura basal inferior (Tb) não há o crescimento da planta, da mesmo forma que acima da temperatura basal superior (TB) também não há. A fotossíntese líquida da planta é positiva entre os dois extremos que representam as temperaturas basais inferior e superior, logo, a temperatura influencia a produção de fotoassimilados e com ela o crescimento e desenvolvimento vegetal, podendo alterar o ciclo de desenvolvimento de uma mesma cultivar em dias, quando cultivada em lugares distintos com variação das temperaturas.

Como calcular o ciclo do milho adequadamente?

Embora no próprio portifólio da cultivar de milho o ciclo da planta esteja apresentado em dias do calendário civil, deve-se compreender que o valor apresentado é uma aproximação que auxilia produtores e técnicos a adequar práticas culturas e culturas no sistema de produção agrícola, contribuindo para o melhor planejamento da propriedade.

Entretanto, é possível calcular o ciclo da cultivar de milho com base na exigência térmica da planta, pelo cálculo da unidade térmica graus-dia e quantificação da soma térmica (acúmulo de graus-dia). O acúmulo de graus-dia representa a integração (no tempo – dias) das temperaturas efetivas das plantas, consideração seus extremos de adaptação (temperaturas basais) (Bergamashi & Bergonci, 2017).

Como calcular os graus-dia?

Diferentes metodologias podem ser empregadas para cálculo da soma térmica de uma cultura. O método mais simples é denominado método direto e consistem em somar médias diárias da temperatura do ar (considerar temperaturas acima de zero graus), entretanto, esse método apresenta grande variação e erro por não considerar as temperaturas basais (Tb e TB) (Bergamashi & Bergonci 2017).

Levando em consideração as temperaturas basais da cultura, Bergamashi & Bergonci (2017) destacam que o método residual, prático e simples, é o mais empregado para o cálculo da soma térmica da grande maioria das culturas agrícolas. Esse método leva em consideração o somatório da diferença entre a média diária da temperatura do ar e a temperatura basal inferior.

Equação 1. Método residual utilizado para cálculo da soma térmica.

ST = ∑ (Tmed – Tb)

Em que:

ST = Soma Térmica;

Tmed = temperatura média diária;

Tb = Temperatura basal inferior da cultura.

Cabe destacar que diferentes casos podem ocorrer em função das combinações entre temperaturas cardeais da planta e temperaturas médias do ar, sendo necessário em algumas situações adotar diferentes metodologias de calculo da soma térmica.

Para a cultura do milho, diferentes temperaturas basais foram definidas ao longo do tempo por estudiosos, de acordo com o genótipo. Segundo Bergamaschi Matzenauer (2009), Berlato & Sutili (1976) obtiveram, como melhores temperaturas, mínimas basais de 4°C para híbridos precoces, de 6°C para os de ciclo médio e, de 8°C, para tardios, segundo a classificação adotada à época. Já, Kiniry (1991) considerou, como limites extremos para a fenologia do milho, 8°C e 44°C, sendo que o crescimento máximo ocorre entre 26°C e 34°C.

Entretanto, para o a cultura do milho, atualmente o mais comum é adotar as temperaturas cardeais para cálculo de graus-dia: Tb = 8°C, Tótima = 30°C e TB = 40°C, conforme apresentado por Monteiro (2009).

Vale lembrar que para diferentes fases do ciclo de desenvolvimento do milho, há diferentes exigências térmicas, o que contribui para a maior variação do ciclo do milho em dias, principalmente quando observadas fases do desenvolvimento da cultura em específico. Embora o mais usual seja trabalhar com o ciclo do milho por estádio fenológicos, a soma térmica permite quantificar com maior exatidão o ciclo do milho.

Ainda que não seja muito difundida, o uso da soma térmica para definir o ciclo do milho é mais aconselhado do que dias do calendário civil, principalmente se tratando do cultivo do milho em diferentes regiões do país. Mesmo que o ciclo do milho possa ser relacionado a dias do calendário civil, é preciso compreender que esse período pode variar em função das diferentes condições e ambientes de cultivo.

Referências:

Bergamaschi, H; Matzenauer, R. MILHO, CAP. 14. AGROMETEOROLOGIA DOS CULTIVOS AGRÍCOLAS: O FATOR METEOROLÓGICO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. 2009.

BERGAMASHI, H.; BERGONCI, J. I. AS PLANTAS E O CLIMA: PRINCIPIOS E APLICAÇÕES. Guaíba: Agrolivros, 2017.

BERLATO, M. A.; SUTILI, V. R. DETERMINAÇÃO DAS TEMPERATURAS BASES DOS SUBPERÍODOS EMERGÊNCIA-PENDOAMENTO E EMERGÊNCIA-ESPIGAMENTO DE TRÊS CULTIVARES DE MILHO (zea mays L.). In: REUNIÃO BRASILEIRA DE MILHO E SORGO, 1976, Piracicaba, SP. Anais … Piracicaba: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, p. 523-527, 1978.

KINIRY, J. R. MAIZE PHYSICS DEVELOPMENT. In: HANKS, J.; RITCHIE, J. T. (Ed.). Modeling plant and soil systems. Madison: ASA-CSSA-SSSA, p. 55-71, 1991. (Agronomy monographs, 31).

MONTEIRO, J. E. B. A. AGROMETEOROLOGIA DOS CULTIVOS AGRÍCOLAS: O FATOR METEOROLÓGICO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. INMET, 2009.

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