Durante o ciclo de desenvolvimento do milho uma série de doenças podem incidir sobre a cultura, causando perdas quantitativas e qualitativas, depreciando grãos e/ou sementes produzidas. Para que uma doença no milho se desenvolva é necessário haver interação entre três fatores principais, Patógeno, Hospedeiro e Ambiente.
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Figura 1. Diagrama esquemático das interrelações dos fatores envolvidos em epidemias de doenças de plantas.
Fonte: Embrapa
As condições adequadas ao desenvolvimento de cada doença variam em função das exigências do patógeno, contudo, pode-se dizer que de maneira geral as doenças fúngicas são favorecidas por condições de elevada umidade relativa do ar e temperaturas amenas.
Em virtude da elevada variedade de patógenos, uma série de doenças podem acometer a cultura do milho. Os órgãos atacados variam em função das doenças e natureza do patógenos, mas podem ser folhas, colmo, raízes e espigas de milho. Dentre as principais doenças que incidem sobre o milho as mais frequentes e preocupantes pelo nível de anos são as causadas por fungos e vírus, ambas com suas características e particularidades, que necessitam ser avaliadas para um manejo assertivo e eficiente.
É importante destacar que algumas doenças são predominantes em determinados períodos do desenvolvimento do milho, sendo fundamental conhece-los, para intensificar o monitoramento das áreas de cultivo e atuar de forma preventiva em alguns casos.
Figura 2. Estádios do desenvolvimento do milho com maior probabilidade da ocorrência de doenças.
Apartado: Dupont Pioneer Brasil, apud. Gênica
Os híbridos modernos possuem considerável resistência a determinados patógenos, contudo é necessário destacar algumas doenças com significativa importância econômica para a cultura em função da frequência com que ocorrem e o seu potencial em causar danos.
Cercosporiose
Causada pelo fungo (Cercospora zeae-maydis), a doença também é conhecida como mancha de cercosporiose ou mancha cinzenta da folha do milho. A cercosporiose está presente em diversas regiões de cultivo e sobre condições favoráveis ao seu desenvolvimento, pode causar perdas de produtividade de até 80% em milho (Grigolli & Grigolli, 2019).
A doença é caracterizada por manchas de coloração cinza, irregulares e retangulares nas folhas, com lesões ocorrendo de forma paralela as nervuras da folha. Em alguns casos, ainda é possível observar o acamamento das plantas (Casela; Ferreira; Pinto, 2006).
Figura 3. Cercosporiose (Cercospora zeae-maydis).
Fonte: Casela; Ferreira; Pinto (2006)
O manejo e controle da Cercosporiose consistem basicamente na rotação de culturas e de cultivares (utilizando cultivares resistentes), bem como a eliminação de resíduos culturais em áreas infectadas, a adequada nutrição do milho e o bom posicionamento de fungicidas registrados para a cultura.
Mancha-branca
Causada por Phaeosphaeria maydis, os principais sintomas da doença consistem no surgimento de lesões no limbo foliar, que inicialmente apresentam aspecto de encharcamento (anasarca), tornando-se necróticas com coloração palha e formato circular a oval com 0,3 a 2 cm de diâmetro (Casela; Ferreira; Pinto, 2006). As perdas em decorrência da doença podem chegar a 60% sob condições favoráveis ao desenvolvimento da mancha-branca (Costa et al., 2011).
A doença é favorecida por condições de temperaturas noturnas amenas (de 15° a 20°C), elevada umidade relativa do ar e elevado volume de chuvas. As principais medidas de manejo consistem no uso de cultivares resistentes, na semeadura antecipada e no controle químico com o emprego de fungicidas (Grigolli & Grigolli, 2019).
Figura 4. Sintomas típicos da mancha branca do milho. Detalhes das lesões em fase inicial (anasarca) e lesões velhas com aspecto necrótico e coloração branca.
Fonte: Costa et al. (2011)
Ferrugem Polissora
Essa doença que acomete as folhas do milho, sendo causada pelo fungo Puccinia polysora e tem seu desenvolvimento favorecido por temperaturas entre 23° a 28°C e alta umidade relativa do ar. Segundo Sabato & Fernandes (2014), os principais sintomas dessa ferrugem são a formação de pústulas de cor laranja, ou marrom-claro, em formato circular ou oval, geralmente na superfície das folhas.
Figura 5. Ferrugem Polissora em milho.
Foto: Costa et al. (2010)
Sob condições favoráveis a doença é capaz de reduzir em mais de 50% a produtividade do milho (Costa; Silva; Cota, 2015). Como principais estratégias de controle podemos destacar o uso de cultivares resistentes, a semeadura em época adequada e o controle químico. Cabe destacar que a doença também é favorecida por ambientes de baixa altitude (abaixo de 700m), sendo assim, nessas áreas não se aconselha o uso de cultivares suscetíveis, mesmo com o adequado posicionamento de fungicidas (Grigolli & Grigolli, 2019).
Ferrugem Branca
Causada pelo fungo Physopella zeae a ferrugem branca é conhecida como ferrugem tropical. Seu desenvolvimento é favorecido por condições de elevada umidade e temperaturas que variam de amenas à altas, apresentando maior capacidade adaptativa em comparação à ferrugem polissora. Os sintomas típicos consistem na formação de pústulas brancas ou amareladas em pequenos grupos, de 0,3 a 1,0 mm de comprimento na parte superior da folha, em paralelo com as nervuras (Pinto; Santos; Wruck, 2006).
Figura 6. Sintomas típicos de ferrugem branca do milho.
Foto: Rodrigo Véras da Costa
As principais medidas de controle são o uso de cultivares com resistência genética, o manejo e controle de plantas voluntárias e/ou hospedeiras do fungo, e o controle químico com o uso de fungicidas.
Helmintosporiose
A Helmintosporiose (Exserohilum turcicum) tem seu desenvolvimento favorecido por temperaturas amenas e pela presença de orvalho. Os danos ocasionados pela doença podem chegar a 50% em ataques antes do período da floração do milho (Casela; Ferreira; Pinto, 2006).
Os principais sintomas da doença podem ser observados no limbo foliar da planta de milho onde ocorre a formação de lesões necróticas, elípticas, variando de 2,5 a 15 cm de comprimento. O tecido necrosado das lesões varia de verde-cinza a marrom e no interior das lesões observa-se intensa esporulação do patógeno. Normalmente os primeiros sintomas são observados nas folhas mais velhas da planta (Grigolli & Grigolli, 2019).
Figura 7. Helmintosporiose (Exserohilum turcicum) em milho.
Foto: Fundação MS
Dentre as estratégias de manejo destacam-se a rotação de culturas e o emprego de fungicidas registrados para a cultura.
Enfezamentos
Não menos importante e com elevado potencial em causar danos os enfezamentos são doenças causadas por microrganismos denominados molicutes, com elevada capacidade em causar danos em plantas de milho podendo comprometer a produção dependendo do estágio em que a planta é infectada (Santos, 2021).
Os molicutes são espiroplasmas (Spiroplasma kunkelii) e/ou fitoplasma (Maize bushy stunt), sendo esses os agentes causais do enfezamentos pálido (causado por espiroplasma) e do enfezamento-vermelho (causado pelo fitoplasma), ambos transmitidos pela cigarrinha do milho Dalbulus maidis (Embrapa, 2022).
Figura 8. Plantas de milho com sintomas foliares associados ao complexo de enfezamentos, em Santa Maria – RS (2021).
Foto: Henrique Pozebon
As principais medidas de controle dos enfezamentos consistem no uso de cultivares resistentes, na padronização das datas de semeadura, no controle de plantas de milho “tiguera” (milho espontâneo) e principalmente no controle da cigarrinha do milho, que é o vetor de transmissão das doenças.
Ainda não há nível de ação pré-estabelecido para controle da cigarrinha-do-milho, sendo avaliado para isso a presença ou ausência da praga na cultura, especialmente durante o período crítico de infecção, de V1 a V5 (Santos, 2021).
Além dessas citadas outras doenças podem assolar a cultura do milho, acometendo diferentes estruturas/órgãos da planta e causando reduções tanto de produtividade quando de qualidade dos grãos ou sementes produzidas. Para tanto, é fundamental atentar para a escolha e posicionamento de cultivares, bem como do programa de fungicidas não deixando de lado o monitoramento intensivo das áreas de produção.
Referências:
CASELA, C. R.; FERREIRA, A. S.; PINTO, N. F. J. A. DOENÇAS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa, Circular Técnica, n. 83, 2006.
COSTA, R. V. et al. EPIDEMIAS SEVERAS DA FERRUGEM POLISSORA DO MILHO NA REGIÃO SUL DO BRASIL NA SAFRA 2009/2010. Embrapa, Circular Técnica, n. 138, 2010.
COSTA, R. V. et al. RECOMENDAÇÕES PARA O CONTROLE QUÍMICO DA MANCHA BRANCA DO MILHO. Embrapa, Circular Técnica, n. 167, 2011.
COSTA, R. V.; SILVA, D. D.; COTA, L. V. REAÇÃO DE CULTIVARES DE MILHO À FERRUGEM POLISSORA EM CASA DE VEGETAÇÃO. Embrapa, Circular Técnica, n. 214, 2015.
EMBRAPA. CONTROLE DA CIGARRINHA DO MILHO: ENFEZAMENTOS POR MOLICUTES E CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa, 2022.
GÊNICA: INOVAÇÃO BIOTECNOLÓGICA. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS NA CULTURA DO MILHO.
GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. DOENÇAS DOE MILHO SAFRINHA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Milho Safrinha 2019, 2019.
PINTO, N. F. J. A.; SANTOS, M. A.; WRUCK, D. S. M. PRINCIPAIS DOENÇAS DA CULTURA DO MILHO. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82·94, jul./ago. 2006.
SABATO, E. O.; FERNANDES, F. T. DOENÇAS DO MILHO (Zea mays L.). Sociedade Brasileira de Fitopatologia, 2014.
SANTOS, M. S. CONTROLE QUÍMICO DA CIGARRINHA DO MILHO: CONFIRA O DESEMPENHO DE ALGUNS ATIVOS. Mais Soja, 2021.
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