Dos elementos climáticos, a temperatura, o fotoperíodo e a disponibilidade hídrica são os que mais afetam a produtividade da soja, podendo interferir no crescimento e desenvolvimento da cultura (Farias; Nepomuceno; Neumaier, 2007). Em virtude das respostas fisiológicas da planta a esses fatores, nem sempre práticas de manejo ou tratos culturais podem ser planejados com base em dias do calendário civil.
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Tendo em vista que determinadas práticas de manejo necessitam ser realizadas em estádios específicos do desenvolvimento da soja, a fenologia passa a ser uma ferramenta auxiliar de técnicas de produção (Câmara, 2006). O uso de escalas dos estádios da soja possibilita a melhor assertividade do momento de realização de práticas de manejo com base nas exigências da cultura, contribuindo para a obtenção de altas produtividades.
A escala fenológica mais conhecida da cultura da soja é a proposta por Fehr & Cavines em 1977, a qual consistia basicamente na subdivisão dos estádios do desenvolvimento da soja em vegetativo (representado pela letra V) e reprodutivo (representado pela letra R). Embora originalmente a escala de fenológica proposta por Fehr & Cavines (1977) não apresentasse a subdivisão do período reprodutivo, posteriormente Ritchie et al. (1977) propuseram a subdivisão desse período, adicionando maior detalhamento a escala fenológica da soja, onde o estádio R5 passou a ser subdividido em:
- R1 – grãos perceptíveis ao tato (10% da granação)
- R2 – granação de 11% a 25%
- R3 – granação de 26% a 50%
- R4 – granação de 51% a 75%
- R5 – granação de 76% a 100% (Farias; Nepomuceno; Neumaier, 2007).
Pequenas variações podem ser observadas em decorrência do grau de detalhamento da escala fenológica utilizadas, entretanto, é consenso que a escala fenológica de Fehr & Cavines é a mais usual na cultura da soja.
Cabe destacar que conforme Zanon et al. (2018), além de conhecer os estádios fenológicos da soja, é preciso seguir alguns critérios para adequação da cultura na escala, a fim de melhor determinação do estádio fenológico da soja. O estádio fenológico de uma lavoura é determinado quando pelo menos 50% das plantas apresentam as características de um determinado estádio (Zanon et al., 2018).
Além disso, se tratando dos estádios vegetativos da soja, Zanon et al. (2018) afirmam que para determinação de um dado estádio, é necessário que os bordos da folha imediatamente acima não mais estejam se tocando (figura 1). Logo, a contagem do estádio vegetativo é habilitada pela abertura dos lóbulos do folíolo da folha logo acima.
Figura 1. Folha de soja com os folíolos cujos bordos não mais se tocam.
Foto: Norman Neumaier
Durante os subperíodos do desenvolvimento vegetativo, florescimento, formação do legume, enchimento de grão e maturação fisiológica, as exigências climáticas e ambientais da cultura da soja podem variar. Dessa forma, o conhecimento fenológico da cultura pode auxiliar no posicionamento e adequação de práticas de manejo, como nutrição vegetal, controle de pragas, doenças e plantas daninhas, entre outros.
Do ponto de vista ecofisiológico, a interação entre fatores ou a interferência no crescimento e desenvolvimento da soja podem exercer influência direta em componentes de produtividade da cultura, podendo reduzir significativamente a produtividade.
Dependendo do estádio fenológico que a interferência ocorre, pode-se observar perdas de ordem qualitativa e quantitativa da soja, um exemplo é o ataque de percevejos durante o período de enchimento de grãos da soja. Dessa forma, fica explicita a importância da fenologia na condução da lavoura visando a melhor assertividade de práticas de manejo e tratos culturais.
Além de auxiliar na condução da lavoura, a fenologia exerce papel fundamental na assistência técnica, possibilitando técnicos e produtores estabelecer comunicação direta e clara, sem interpretações distorcidas. Sendo assim, a aplicação prática da fenológica é indispensável para o sucesso produtivo da lavoura, servindo como base para diversas práticas de manejo.
Referências:
CÂMARA, G. M. S. FENOLOGIA É FERRAMENTA AUXILIAR DE TÉCNICAS DE PRODUÇÃO. VISÃO AGRÍCOLA, n. 5 Jan- Jun, 2006.
FARIAS, J. R. B.; NEPOMUCENO, A. L.; NEUMAIER, N. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Embrapa, Circula Técnica, n. 48, 2007.
FEHR, W.R., CAVINESS, C.E. STAGES OF SOYBEAN DEVELOPMENT. Ames: Iowa State University, (Special Report, 80), 12p. 1977.
NUNES, A. C. ASPECTOS AGRONÔMICOS E PRODUTIVIDADE DE SOJA SUBMETIDA A MANEJO DE IRRIGAÇÃO. Universidade Federal do Ceará, Tese de Doutorado, 2015.
ZANON, A. J. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, ed. 1, 2018.
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