Lavouras de amendoim: conheça os nutrientes essenciais

A maior parte das lavouras de amendoim no Brasil são cultivadas em solos arenosos de baixa fertilidade. O amendoim (Arachis hipogaea L.) é considerado uma planta com alta eficiência no uso dos nutrientes, mas há necessidade de programas de fertilização equilibrados para obter altas produtividades; e tem sido reportado incrementos de produtividade e qualidade de sementes em função do manejo adequado da adubação. O manejo nutricional equilibrado além resultar em incremento de produtividade e qualidade torna o amendoim mais tolerante aos estresses bióticos (pragas e doenças) e abióticos (seca e altas temperaturas) reduzindo os riscos de produção. A seguir será dado mais detalhe para cada nutriente essencial para o amendoim.

Nitrogênio (N)

O N é o nutriente absorvido em maior quantidade pelo amendoim, para cada tonelada de amendoim em casca produzido o amendoim absorve 54 kg de N e exporta via colheita das vagens 36 kg de N. Logo lavouras de amendoim de altos rendimentos (5 ton ha-1 ou 500 sacas por alqueire) extraem até 300 kg ha-1 de N e exportam 200 kg ha-1 de N. O nível crítico de N nas folhas do amendoim é entre 35 e 45 g kg-1. Em torno de 20% do N absorvido pelo amendoim é proveniente da reserva do solo e das pequenas doses de N mineral aplicado no momento da semeadura; o restante (80%) é proveniente da fixação biológica de nitrogênio (FBN), ou seja, lavouras de amendoim de altos rendimentos fixam por volta de 250 kg ha-1 de N. Essa fixação é realizada por bactérias do gênero Bradyrizobium, e para que ocorra fixação de forma adequada é necessário manejos como correção do solo – pH na faixa entre 5,5 e 6,5 e fornecimento de fósforo, enxofre, boro, cobalto, molibdênio e níquel na dose adequada. Adicionalmente, em áreas de primeiro ano de cultivo é recomendada a inoculação com Bradyrizobium (utilizar cepas especificas para cultura) a fim de melhorar a eficiência da FBN. Realizando esses manejos não há necessidade de aplicar N via fertilizantes na cultura do amendoim. A aplicação de doses superiores a 20 kg ha-1 de N além de não beneficiar a produtividade, leva ao crescimento exagerado do dossel, desequilíbrio da relação fonte/dreno, maior incidência de cercosporiose e maior consumo de água devido a maior transpiração do dossel.

Fósforo (P)

O P é um elemento essencial da síntese de energia (ATP), crescimento radicular, qualidade fisiológica das sementes, além de melhorar a eficiência da FBN. Para cada tonelada de amendoim em casca produzido são extraídos em torno de 14 kg de P2O5 e cerca de 8 kg de P2O5 são exportados via colheita das vagens, assim lavouras de amendoim de altos rendimentos extraem até 70 kg ha-1 de P2O5 e exportam 40 kg ha-1 de P2O5. O nível crítico de P nas folhas do amendoim é entre 2,0 e 4,0 g kg-1. A correção do solo com calagem é a principal técnica para melhorar a eficiência no uso do P. O nível crítico de P no solo para cultivo de amendoim é de 15 mg dm-3 (resina), ou seja, quando o teor no solo for maior que o nível crítico deve realizar adubação apenas visando repor a exportação de P pela cultura. A aplicação do P deve ser realizada de forma localizada no momento da semeadura, sendo a dose adequada dependente do teor inicial de P no solo e nível de produtividade desejado.

Potássio (K)

O K atua na condutância estomática das plantas de amendoim e transporte de carboidratos, principalmente. Assim lavouras de amendoim bem nutridas com K são mais tolerantes à seca e têm peso e rendimento de grãos maiores. O nível crítico de K nas folhas do amendoim é entre 17 e 30 g kg-1. Para cada tonelada de amendoim em casca produzido são extraídos 50 kg de K2O, mas apenas 20% desse total é exportado, assim, mesmo em lavouras de amendoim de altos rendimentos são exportados apenas 50 kg ha-1 de K2O. Isso explica a baixa resposta do amendoim a aplicação de altas doses de K. Entretanto deve se aplicar ao menos o que for exportado via colheita das vagens, com objetivo de não prejudicar a fertilidade do solo.

O nível crítico de K do solo para o cultivo de amendoim é de 2 mmolc dm-3. Deve-se evitar a aplicação de altas doses de K em ambientes de solos arenosos, pois pode ocorrer com competição na zona de formação das vagens e prejudicar a absorção de cálcio pelas vagens. Normalmente áreas com maior capacidade de troca de cátions (CTC) e pós cultivo de cana-de-açúcar são mais responsivas a adubação potássica em relação a áreas de com solos de baixa CTC e pós cultivo de pastagem. Adicionalmente, a nível de campo se tem utilizado aplicações de K via foliar com objetivo de melhorar o enchimento de grãos, e se tem observado alguns resultados positivos, no entanto, ainda não há validação científica para essa prática.

Cálcio (Ca)                

O Ca é considerado o principal nutriente para cultura do amendoim. Curiosamente para cultura do amendoim há absorção direta do Ca acontece via vagens/ginóforos, assim é necessário disponibilidade adequada de Ca na camada de formação das vagens – 0-10 cm, no momento na frutificação – estádio R4. Para cada tonelada de amendoim em casca produzido são necessários 22 kg de CaO, mas apenas 16% desse total é exportado. O nível crítico de Ca nas folhas do amendoim é entre 13 e 18 g kg-1. A deficiência de Ca leva a má formação das vagens e sementes, além de limitar o crescimento radicular do amendoim. O nível crítico de Ca no solo para cultivo do amendoim é de 30 mmolc dm-3 na camada de 0-20 cm. Quando o teor de Ca no solo estiver abaixo do nível crítico é recomendada a prática da calagem em pré semeadura. A aplicação de gesso agrícola em cobertura entre os estádios V5 e R2 também é uma importante ferramenta para o fornecimento de Ca de forma adequada para cultura do amendoim.  

Magnésio (Mg)

O Mg é constituinte da molécula de clorofila, além de atuar no particionamento de carboidratos. Plantas bem nutridas com Mg têm melhor aproveitamento da energia luminosa, melhor peso e rendimento de grãos. Para cada tonelada de amendoim em casca produzido o amendoim extrai 11 kg de MgO e exporta de cerca de 25% desse total. O nível crítico de magnésio no solo é de 10 mmolc dm-3. Assim em solos com baixo teor de magnésio é recomendado o uso de calcário com maior teor de magnésio (calcário dolomítico). O nível crítico de Mg nas folhas do amendoim é entre 3,0 e 8,0 g kg-1. Se for reportado nível inferior ao adequado para cultura no início do florescimento é recomendável a aplicação suplementar de Mg via foliar no período de formação e enchimento de grãos R5-R7, visando o melhor transporte de carboidratos das folhas para as vagens.

Enxofre (S)

O S atua na síntese de proteínas, logo lavouras de amendoim com deficiência de S podem apresentar menor teor de proteína nas sementes, baixa produtividade e menor qualidade fisiológica de sementes. A deficiência de S também reduz a eficiência da FBN. O nível crítico de S nas folhas do amendoim é entre 2,0 e 3,0 g kg-1. Para cada tonelada de amendoim em casca produzido são necessários 4 kg de S, e cerca de 50% desse total é exportado. O nível crítico de S no solo é de 8 mg dm-3 na camada 20-40 cm. Assim em condições de baixo teor de S no solo é recomendo o fornecimento via solo, podendo ser posicionado via enxofre elementar em pré semeadura; fertilizante formulado na semeadura ou via gesso agrícola em cobertura, sendo a dose adequada dependente do teor inicial de S no solo e fonte utilizada.

Boro (B)

O B é considerado o principal micronutriente requerido pelo amendoim. A deficiência de B limita o crescimento radicular, fertilidade e pegamento das flores, transporte de açúcares das folhas para as estruturas reprodutivas e qualidade fisiológica das sementes. Para cada tonelada de amendoim em casca produzido são extraídos em média 80 g de B e exportado cerca de 30% desse total. O nível crítico de B nas folhas do amendoim é entre 40 e 75 mg kg-1, enquanto que no solo é de 0,6 mg dm-3. Quando o teor de B no solo é menor que o nível crítico é recomendo a aplicação via solo, visando nutrir a planta de forma eficiente do início ao final do ciclo. Em condições de estresses ambientais como seca ou sombreamento também tem sido reportado incrementos de produtividade com aplicação suplementar de boro via foliar, sendo a dose recomendada dependente da fonte utilizada, nível de produtividade da lavoura e teor de B no solo.

Cobre (Cu)

O Cu atua na atividade fisiológica da planta, ativação enzimática e tolerância a doenças. Para cada tonelada de amendoim em casca produzido são extraídos cerca de 18 g de Cu e 60% desse total é exportado. O nível crítico de Cu nas folhas do amendoim é entre 10 e 50 mg kg-1, enquanto que no solo é de 0,8 mg dm-3. Quando for reportado solos com deficiência de Cu é recomendável a aplicação via solo ou foliar visando a nutrição adequada do amendoim.

Ferro (Fe)

O Fe atua como ativador enzimático e na biossíntese da clorofila. Entretanto nos solos com cultivo de amendoim no Brasil, normalmente o teor de Fe é alto, não sendo reportado incremento de produtividade com adubação via solo ou foliar. Lavouras de amendoim de alta produtividade chegam a absorver 3000 g ha-1 de Fe, e cerca de 35% desse total é exportado via colheita das vagens. Atenção deve ser dada para adubação com Fe apenas quando houve aplicação de altas doses de calcário e o pH encontra-se próximo da neutralidade. Adicionalmente, o nível crítico de Fe nas folhas do amendoim é entre 100 e 250 mg kg-1, enquanto que no solo é de 12 mg dm-3.

Manganês (Mn)

Assim como o Fe, o Mn atua como ativador enzimático e na biossíntese da clorofila, principalmente; e na maioria das vezes o teor no solo é alto. Lavouras de alta produtividade chegam a absorver 600 g ha-1 de Mn, e cerca de 60% desse total é exportado via colheita das vagens. Atenção deve ser dada para adubação com Mn apenas quando houve aplicação de altas doses de calcário e pH encontra-se próximo da neutralidade. O nível crítico de Mn nas folhas do amendoim é entre 100 e 350 mg kg-1, enquanto que no solo é de 5 mg dm-3.

Zinco (Zn)

O Zn atua na síntese hormonal das plantas, principalmente das auxinas, hormônios responsáveis pelo crescimento da planta. Além disso, atua diretamente na atividade fisiológica do amendoim em síntese de açúcares. Plantas bem nutridas com zinco apresentam melhor crescimento radicular inicial, maior produtividade e melhor qualidade de sementes. A demanda de Zn é cerca de 70 g para produzir uma tonelada de amendoim em casca e cerca de 60% desse total é exportado. O nível crítico de Zn nas folhas do amendoim é entre 20 e 50 mg kg-1, enquanto que no solo é de 1,2 mg dm-3. Quando o teor de Zn no solo é menor que o nível crítico é recomendo a aplicação via solo, visando nutrir a planta de forma eficiente do início ao final do ciclo. A aplicação de Zn via foliar também tem se mostrado uma importante estratégia como forma suplementar de fornecimento de Zn.

Cobalto e molibdênio (CoMo)

O Mo é um elemento essencial para o amendoim, enquanto que o Co é um elemento benéfico. O Mo está associado a atividade da enzima nitrogenase responsável para conversão no N2 em formas de N assimiláveis pelo amendoim. O Co é componente da cobalamina (vitamina B12) precursora da leghemoglobina que está associada a atividade dos nódulos do amendoim. A nutrição adequada com Co e Mo é fundamental para que a FBN ocorra de forma adequada, melhorando a nutrição com N. As principais formas de fornecimento de Co e Mo para cultura do amendoim é via tratamento de sementes e via pulverização foliar durante a fase vegetativa e reprodutiva.

Considerações finais

Para máxima produtividade e maior qualidade do amendoim é fundamental que haja uma nutrição adequada com os macros e micronutrientes. Atenção deve ser dada para aplicações de altas doses de fertilizantes nessa cultura, principalmente em cultivares de ciclo mais indeterminado, pois pode causar crescimento vegetativo exagerado e baixa produtividade. O manejo de adubação deve ser ajustado em função do ambiente de produção, nível de fertilidade do solo, cultura antecessora e cultivar utilizada.

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