A nutrição para a soja é um dos principais fatores que impacta a produtividade da cultura. Por convenção, os nutrientes requeridos pela soja são divididos em função da quantidade necessária pela planta, sendo classificados como macronutrintes os requeridos em maiores quantidades e micronutrientes os requeridos em menores quantidades.
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Para que uma cultura possa expressar seu potencial produtivo, são necessárias condições adequadas de temperatura, radiação solar, água e nutrientes. Cada cultura expressa suas exigências a frente dessas condições, contudo, de modo geral pode-se dizer que a deficiência de algumas delas pode resultar em restrições do crescimento e desenvolvimento, limitando consequentemente a produtividade.
Embora haja significativa diferença quantitativa entre macro e micronutrientes, ambos desempenham funções essenciais para o funcionamento e metabolismo vegetal, podendo a deficiência de algum deles limitar a produtividade da cultura, fato popularmente conhecido como Lei do Mínimo ou Lei de Liebig, onde “o rendimento de uma safra é limitado pelo elemento cuja concentração é inferior a um valor mínimo, abaixo do qual as sínteses não podem mais fazer-se”. Figura 1. Representação esquemática da definição da Lei de Liebig ou Lei do Mínimo.
A lei de Liebig pode ser considerada um dos fundamentos da nutrição vegetal, sendo utilizada até hoje para embasar determinadas práticas de manejo, especialmente no que diz respeito ao aporte nutricional. Com isso em vista, e partindo do pressuposto que condições hídricas e ambientais são favoráveis ao desenvolvimento da soja, balizar a nutrição da cultura em função da necessidade de nutrientes e expectativas de produtividade é uma das principais estratégias para a obtenção de altas produtividades.
Para tanto, é necessário conhecer a quantidade requerida de nutrientes para a cultura da soja, visando analisar as possíveis medidas de intervenção para suprir a demanda nutricional da cultura. Para isso, deve-se realizar um diagnóstico das condições químicas e nutricionais do solo, por meio da análise química da fertilidade do solo. Embora a quantidade de nutrientes a ser fornecida ao sistema de produção possa variar em função do tipo e condições de solo, bem como expectativas de produtividade, é fundamental conhecer a quantidade acumulada e exportada de nutrientes pela soja.
Os teores de nutrientes na biomassa das culturas podem variar em função das cultivares, condições de solo e ambiente, assim como disponibilidade de água e estádio do desenvolvimento (Floss, 2022). Entretanto, cabe destacar que visando um manejo eficiente da nutrição em soja, mesmo em solos com adequados teores nutricionais, deve-se atentar principalmente para a quantidade de nutrientes exportados pela cultura, sendo necessário realizar a adubação de manutenção, mesmo em solos com adequados teores nutricionais. Por convenção, a extração de nutriente é definida como a quantidade total de nutrientes acumulado nos grãos e na palhada (parte aérea e raízes) da cultura.
Tabela 1. Quantidade de nutrientes acumulada e exportada pela cultura da soja (1).
(1) Cultivares: Cv.1: BRS 360RR, Safra 2011/2012, GMR 6.2, Índice de Colheita Aparente (ICA) 0,445; Cv.2: BRS 1010IPRO, Safra 2014/2015, GMR 6.1, ICA 0,408; Cv.3: BRS 360RR, Safra 2010/2011, GMR 6.2, ICA 0,396; Cv.4: V-Top RR, Safra 2013/2014, GMR 5.8, ICA 0,301; Cv.5: DM 6563IPRO, Safra 2014/2015, GMR 6.3, ICA 0,407.
(2) Quantidade de nutrientes contida nos grãos das plantas no estádio final de desenvolvimento (R8, maturação plena) – Umidade base 13%.
(3) Quantidade de nutrientes contida no tecido vegetal das plantas no estádio de Máximo Acúmulo de Matéria Seca (R6).
(4) Fatores de conversão: P → P2O5 = multiplicar por 2,29; K → K2O = multiplicar por 1,21.
Além de conhecer a necessidade de nutrientes pela cultura da soja, é fundamental compreender que a demanda nutricional por parte de cultura varia em função do estádio de desenvolvimento em que a planta se encontra, estando relacionado ao acúmulo de matéria seca da cultura. Conforme destacado por Floss (2022), um dos nutrientes mais requeridos pela soja é o nitrogênio (N). Dependendo do estádio de desenvolvimento e da expectativa de produtividade da soja, exportações superiores o 6 kg N dia-1 podem ser observadas (tabela 2). Embora em menor quantidade, os demais macronutrientes requeridos pela soja também apresentam significativa extração diária, variando entre 0,29 a 3,4 kg dia-1 dependendo do nutriente (tabela 3) (Santos, 2022).
Tabela 2. Estimativa da marcha de absorção de nitrogênio (N) durante o desenvolvimento na cultura da soja, para um rendimento de 5 Mg ha-1 e necessidade de 402,5 kg N ha-1.
Tabela 3. Produção de biomassa seca (kg ha-1), extração máxima total (kg ha-1), e taxa de extração máxima de macronutrientes para um rendimento de 3531 kg ha-1 de grãos de soja.
Além da relação direta dos teores nutricionais do solo com a nutrição da soja, fatores indiretos também podem influenciar na nutrição da cultura. Um deles é a inoculação da soja, embora o Nitrogênio seja considerado o nutriente mais requerido pela cultura, através da simbiose entre a planta e bactérias fixadoras de N, esse nutriente é fornecido pelo processo de fixação biológica de nitrogênio, capaz de fornecer todo o Nitrogênio necessário para boas produtividades de soja (Gitti, 2016).
Outro fator que interfere indiretamente na nutrição da soja é qualidade química do solo, em específico, seu pH. Mesmo sob elevadas quantidades de nutrientes no solo, a disponibilidade deles para a cultura da soja esta condicionada ao pH do solo. De maneira geral, a maior disponibilidade de nutrientes é observada em solos com pH variando entre 6 a 6,5.
Figura 2. Disponibilidade de nutrientes no solo em função do pH.
Logo, não necessariamente o elevado aporte nutricional signifique a boa nutrição da soja, sendo necessário analisar as condições de solo, a fim de possibilitar o maior aproveitamento dos nutrientes, sem que a deficiência nutricional possa limitar a produtividade da cultura.
Referências:
FLOSS, E. L. MAXIMIZANDO O RENDIMENTO DA SOJA: ECOFISIOLOGIA, NUTRIÇÃO E MANEJO. Passo Fundo, ed. 2, 2022.
GITTI, D. C. INOCULAÇÃO E COINOCULAÇÃO NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2015/2016, 2016.
GITTI, D. C.; ROSCOE, R.; RIZZATO, L. A. MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2018/2019, 2019.
OLIVEIRA JUNIOR, A. et al. FERTILIDADE DO SOLO E AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DA SOJA. Tecnologias de Produção de Soja, Embrapa, Sistemas de Produção n. 17, cap, 7, 2020.
SANTOS, M. S. QUAL A EXPORTAÇÃO DIÁRIA DE MACRONUTRIENTES PELA SOJA? Mais Soja, 2022.
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