Além de uma boa semeadura, a boa plantabilidade da soja é de suma importância para o bom estabelecimento da lavoura. (Zanon et al., 2018). A premissa de que uma boa lavoura começa por uma boa semente é verdadeira.
A semeadura tem como principal objetivo proporcionar bom contato semente/solo, além de posicionar as sementes em profundidade adequada, realizando também o bom fechamento do sulco de semeadura, entre outros atributos.
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Entretanto, além da utilização de sementes de qualidade, as quais devem apresentar bons atributos físicos, fisiológicos, sanitários e genéticos, é preciso posicionar essas sementes de forma adequada no terreno, promovendo boas condições para germinação e estabelecimento.
O que é plantabilidade?
A plantabilidade está relacionada a distribuição das sementes no terreno, sendo que uma boa plantabilidade tem como resultado a distribuição equidistante das sementes em uma mesma profundidade, considerada adequada para a cultura de interesse.
Falhas e duplas, o que são?
Como resultado de uma má plantabilidade, tem-se a elevada porcentagem de espaçamentos duplos e falhos, ou como são popularmente conhecidos, “duplas e falhas”. Quando o espaçamento entre plantas é a metade do espaçamento recomendado (ideal/aceitável), tem-se uma “dupla”, já quando o espaçamento entre plantas é superior a uma vez e meia o espaçamento recomendado, tem-se uma “falha” (Santos, 2020).
Quais as consequências de falhas e duplas?
Embora a soja possua significativa habilidade compensatória, também conhecida como plasticidade, como principal consequência do elevado percentual de espaçamento falhos tem-se a redução da população de plantas, podendo impactar a produtividade da cultura pela redução do número de plantas por área. Já elevados percentuais de espaçamentos duplos resultam no adensamento indesejado das plantas, aumentando a competição entre elas por água, radiação solar e nutrientes do solo, podendo estimular comportamentos como o aumento da estatura da planta.
Quais as causas?
Ainda que atualmente as semeadoras modernas possibilitem uma maior velocidade de trabalho e maior uniformidade de distribuição das sementes, conforme observado por Jasper et al. (2011) e Gazel et al. (2017), a velocidade de semeadura da soja é um dos principais fatores influenciadores da porcentagem de espaçamentos aceitáveis, falhos e duplos, podendo afetar diretamente a plantabilidade da cultura.
Figura 1. Regularidade de distribuição longitudinal de sementes em função da velocidade de semeadura.
Fonte: Gazel et al. (2017).
Tiesen et al. (2016), avaliando a velocidade de semeadura no cultivo da soja, afirmam que embora a velocidade de semeadura não interfira no estabelecimento da lavoura, pode influenciar a produtividade da cultura, podendo afetar componentes de produtividade como número de vagens por planta e massa de mil grãos.
Figura 2. Produtividade da soja, em função da velocidade de semeadura.
**Significativos a 1% de probabilidade pelo teste “t” de Student.
Fonte: Tiesen et al. (2016).
Além da velocidade de semeadura, segundo Jasper et al. (2011), o sistema dosador de sementes pode interferir na plantabilidade da soja. Avaliando a influência da velocidade da semeadura na cultura da soja, com sistemas dosadores de sementes dos tipos disco alveolado horizontal e pneumático, os autores observaram que o sistema pneumático apresentou valores inferiores de espaçamentos múltiplos e maior porcentagem de espaçamentos aceitáveis em comparação ao sistema de disco alveolado horizontal. Portanto, a distribuição longitudinal de sementes foi melhor no sistema pneumático, em comparação ao sistema de disco alveolado horizontal, quando do incremento da velocidade (Jasper et al., 2011).
Figura 3. Espaçamentos aceitáveis, com velocidade crescente de semeadura da soja, em dois sistemas de distribuição: disco alveolado horizontal e pneumático.
Fonte: Jasper et al. (2011).
Agindo em conjunto com a má plantabilidade da soja, a baixa qualidade das sementes pode prejudicar o estabelecimento das plantas e produtividade da lavoura. Sementes de baixa qualidade fisiológica, mais especificamente com distinto vigor, quando semeadas em condições de má plantabilidade podem estimular a relação de competição entre plantas de soja.
Como o vigor pode ser relacionado a velocidade de emergência, quanto uma semente de alto vigor é semeada ao lado de uma semente e baixo vigor, normalmente sob condições similares de ambiente e manejo, a semente de alto vigor germina primeiro, emergindo sua plântula e estabelecendo uma relação de planta dominante sobre a planta originária da semente de baixo vigor. Logo, tem-se uma relação de planta dominante e dominada, em decorrência da diferença de vigor entre as sementes, e que pode ser agravada pela má plantabilidade, resultando em redução de produtividade da soja.
Dessa forma, a plantabilidade implica direta e indiretamente ne produtividade da soja, sendo essencial para altas produtividades, que se tenha uma boa plantabilidade. Fatores como a boa regulagem de semeadora, velocidade de trabalho e sistema dosador de sementes são fundamentais para uma boa plantabilidade e devem receber a devida atenção. Dentro das condições possíveis e disponíveis para a semeadura da soja, o capricho na execução da semeadura é fator determinante para uma boa plantabilidade, trabalhando dentro das condições pré-estabelecidas e recomendadas de velocidade de semeadura, com a semeadora bem regulada e ajustada.
Referências:
GAZEL, K, L. et al. REGULARIDADE DE DISTRIBUIÇÃO EM DIFERENTES VELOCIDADES DE SEMEADURA DE SOJA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO. Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia, ago. 2017.
JASPER, R. et al. VELOCIDADE DE SEMEADURA DA SOJA. Eng. Agríc., Jaboticabal, v.31, n.1, p.102-110, jan./fev. 2011.
SANTOS, M. S. PLANTABILIDADE: FALHAS E DUPLAS, ENTENDA O QUE SÃO. Mais Soja, 2020.
TIESEN, C. M. A. et al. INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE SEMEADURA NO CULTIVO DE SOJA. Scientific Eletronic Archives, nov. 2016.
ZANON, A. J. et al. ECOFISIOLOGICA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, ed. 1, 2018.
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