Entre as doenças do algodão, a Mancha de Ramulária (Figura 1) atualmente é a principal doença do algodoeiro, com ocorrência tanto na fase vegetativa como a fase reprodutiva, porém os danos mais expressivos ocorrem durante o florescimento e abertura dos capulhos, podendo reduzir a produtividade em até 35%, além de perdas na qualidade da fibra.
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As principais regiões produtoras de algodão no Brasil são caracterizadas pelo clima quente e úmido, o que favorece a incidência doenças, principalmente as fúngicas. São conhecidos cerca de 250 microrganismos que causam doenças no algodoeiro, sendo que aproximadamente 90% são fungos. Dessa forma existe um grande desafios do cultivo do algodoeiro em clima tropical, com necessidade de estratégias para evitar perdas de produtividade e qualidade em função das doenças.
A incidência do fungo nas folhas, reduz a interceptação da radiação, taxa fotossintética, resultando em senescência antecipada e desfolha precoce. As condições climáticas que favorecem a doença está associada a temperaturas entre 22°C e 28°C e longo período de molhamento foliar. Essa doença é responsável pela maior parte de aplicações e fungicidas na cultura, sendo utilizados principalmente triazóis, organoestânico, estrobirulina. e carboxamidas. As demais doenças fúngicas têm comportamento semelhante a ramulária, podendo dar destaque para mancha alvo, ramulose e mofo branco (Tabela 1). Além disso, a mela e o tombamento são doenças importantes de início de ciclo (ver tabela 1 as principais doenças do algodoeiro).
A escolhas de cultivares tolerantes/resistentes é a principal estratégia de manejo das doenças, seguido do controle químico e cultural, com o ajuste da densidade e espaçamento. Por exemplo, no mercado já existem cultivares com resistência a Ramulária. Além do uso de fungicidas, que têm sido utilizado com alta frequência, com as moléculas mencionadas acima, é importante ressaltar a importância da rotação das moléculas para evitar perda precoce da eficiência, além de uso de fungicidas protetores.
Além do uso de cultivares resistentes/tolerantes e do manejo de fungicidas, práticas agronômicas como o ajuste da época de semeadura, espaçamento entre linhas, densidade de plantas, manejo da adubação nitrogenada, regulador de crescimento e melhor nutrição da planta são fundamentais para reduzir a pressão de doenças. Por exemplo alta densidade de plantas, associado a espaçamento entre linhas mais estreito, dificulta a penetração da radiação no dossel, resultando a um microclima favorável às doenças no baixeiro o que aumenta a taxa de apodrecimento de maças. O crescimento exagerado do dossel devido ao excesso de nitrogênio e manejo incorreto do regulador de crescimento favorecem ao auto sombreamento da planta e menor penetração da radiação no dossel. Adicionalmente, tem sido relatado na literatura que a menor relação nitrogênio/potássio nas folhas no algodoeiro reduz a incidência de Ramulária e Alternária, ou seja, o excesso de nitrogênio e a deficiência de potássio podem favorecer a incidência de doenças no algodoeiro e aumentar a necessidade de fungicidas. Outros nutrientes como o boro e cálcio também melhoram a tolerância do algodoeiro às doenças.
Dessa forma os produtores de algodão devem associar as tecnologias (cultivares e fungicidas) ao manejo agronômico para aumentar a a eficiência de controle das doenças e prolongar a eficiência dos fungicidas e a resistência/tolerâncias das cultivares.
Figura 1 Incidência de ramulária no algodoeiro.
Foto. Alfredo Riciere Dias.
Tabela 1. Principais doenças do algodoeiro, patógenos, sintomas, ocorrência e grau de importância no Estado do Mato Grosso. Adaptado de Chitarra e Galbieri (2020).
Doenças | Patógeno | Sintomatologia | Ocorrência DAS | Importância MT |
Mancha de ramulária | Ramulária areola | Lesões de formato angular ou irregular, aspecto branco-azulado; desfolha precoce | 15-155 | 5 |
Mancha alvo | Corynespora cassiicola | Pequenos pontos circulares de coloração marrom ou arroxeada nas folhas; desfolha precoce. | 60-120 | 5 |
Ramulose | Colletotrichum gossypii South.ver. cephalosporioides | Lesões necróticas escuras de forma estrelada; ramificações dos galhos e internódios curtos. | 15-155 | 5 |
Mofo branco | Sclerotina sclerotiorum | Murcha, seca, necrose e podridão úmida em hastes, pecíolo e maças. Micélio branco de aspecto cotonoso e escleródios escuros irregulares internos ao capulho. | 40-155 | 5 |
Doença azul (virose) | Cotton leafroll dwarf vírus (CLRDV) | Mosaico das nervuras; encurtamento de internódios; redução porte da planta; rugosidade; tonalidade verde-escura das folhas mais velhas | 30-155 | 5 |
Virose atípica (virose) | Genótipo do Cotton leafroll dwarf vírus (CLRDV) | Mosaico das nervuras; encurtamento de internódios; redução porte da planta; rugosidade; murchamento e avermelhamento intenso das folhas. | 30-155 | 5 |
Murcha de fusário | Fusarium oxysporum f. sp. vasifectum | Folhas basais com perda de turgescência, murcha e morte prematura das folhas; coloração marrom observado pelo corte da haste. | 55-160 | 4 |
Mela | Rhizoctonia solani | Lesão aquosa zonada nas folhas cotiledonares; seca dos cotilédones e morte da planta | 0-35 | 4 |
Tombamento | Diversos | Lesões no hipocótilo, coloração de pardo-avermelhada a pardo-escuro; estrangulamento e morte da planta | 0-35 | 4 |
Apodrecimento das maças | Diversos | Lesões circulares ou irregulares no fruto, coloração parda ou azulado-escura. | 105-155 | 3 |
Mancha angular | Xanthomonas citri subsp. malvacearum | Lesões angulares, aspecto oleoso, coalescência das lesões e rasgadura do limpo foliar. | 15-150 | 3 |
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