Inúmeros fatores podem influenciar o crescimento e desenvolvimento da soja durante o ciclo da cultura, impactando diretamente ou indiretamente a produtividade do cultivo. Dentre os fatores abióticos, temperatura, disponibilidade hídrica e fotoperíodo, são os fatores que mais influenciam o desenvolvimento da soja.
Além desses, fatores bióticos como a ocorrência de pragas e doenças podem limitar o crescimento, causando estresses que podem acelerar ou retardar o desenvolvimento da planta, afetando negativamente seu potencial produtivo.
A soja pode responder positivamente ou negativamente a estímulos térmicos e luminosos, respectivamente, a soma térmica (acúmulo de graus dia) e fotoperíodo. Para que ocorra a mudança do estádio de desenvolvimento da soja, é necessário que haja o acúmulo térmico necessário, em conjunto com o estímulo fotoperiódico.
Assim como para a maioria das culturas agrícolas, há uma temperatura ótima para o desenvolvimento da soja (30°C), e temperaturas basais que determinam o limite entre o crescimento e desenvolvimento e o estresse térmico. Para a cultura da soja, a temperatura basal inferior é 13°C, e a temperatura basal superior é de 40°C. Entre esses dois extremos, a fotossíntese líquida é positiva, então há o crescimento e desenvolvimento vegetal. Fora desses limites, a assimilação líquida é negativa, visto que as plantas paralisam o crescimento e passam a sofrer estresse térmico (Bergamaschi, 2017).
Na floração por exemplo, temperaturas inferiores a 13 ºC têm o efeito de inibir ou retardar a indução da soja ao florescimento, o que justifica a diferença no período de floração para uma mesma cultivar, na mesma região, em função das oscilações da temperatura. A alta temperatura por sua vez, durante o período vegetativo da soja, tende a resultar em florescimento precoce e redução da estatura da planta. Além disso, quando combinadas com deficiência hídrica ou condições de fotoperíodo, esses problemas podem ser agravados (Neumaier et al., 2020).
Ciclo de desenvolvimento da soja
Cuidados durante o ciclo da Soja
Embora a soja apresente conhecida plasticidade, um dos primeiros cuidados com a soja e seu desenvolvimento está relacionado ao estabelecimento da lavoura. A má distribuição de plantas não é desejada em lavouras comerciais, densidades abaixo do recomendado assim como a má distribuição de plantas, provocam redução no potencial produtivo da lavoura, mesmo que a cultivar apresente alta plasticidade (Tagliapietra et al., 2022).
Para que ocorra um adequado processo de germinação, a semente precisa absorver cerca de 50% do seu peso em água, além disso, a temperatura do solo não deve ser inferior a 20°C, sendo consideradas adequadas para semeadura, temperaturas variando entre 20° a 30°C (Monteiro et al., 2009).
Além dos cuidados no estabelecimento da lavoura, é essencial atentar para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas que possam exercer efeito negativo sobre o potencial produtivo da soja. A matocompetição de plantas daninhas com a cultura da soja (figura 2), resulta na redução da absorção de água, nutrientes e da interceptação da radiação solar, limitando o crescimento da soja, e reduzindo sua capacidade fotossintética e capacidade a resistir a estresses.
Ainda que varie em função da espécie de planta daninha e densidade populacional da infestação, estudos científicos demonstram que o período anterior a interferência, considerando 5% de perda de produtividade, varia de 9 a 17 dias após a semeadura (Silva et al., 2009; Zandoná et al., 2018; Piazentine et al., 2021).
Figura 2. Matocompetição inicial entre soja e planta daninha
Com relação ao manejo e controle de pragas, inicialmente o tratamento de sementes promove proteção a pragas no estabelecimento da lavoura, entretanto, com a evolução do ciclo da soja, o monitoramento periódico passa a se tornar necessário para evitar perdas de produtividade. Pragas desfolhadoras como lagartas reduzem a área foliar da soja, diminuindo sua capacidade fotossintética e consequentemente o acúmulo de fotoassimilados nos grãos. Para um controle eficiente dessas pragas, níveis de ação foram pré-definidos pela pesquisa.
No geral, por apresentar maior habilidade compensativa durante o período vegetativo (figura 1), os níveis de ação para o controle de pragas desfolhadoras na soja são mais tolerantes nessa fase. Entretanto, no período reprodutivo, há uma maior necessidade de acúmulo de fotoassimilados nos grãos, e, portanto, o nível de ação para o controle dessas pragas é menos tolerante.
Conforme recomendações de manejo, orienta-se realizar o controle químico de lagartas desfolhadoras em soja quando atingido o nível de 30% de desfolha durante o período vegetativo da cultura e 15% de desfolha durante o período reprodutivo da soja (Roggia et al., 2020).
Além das lagartas, os percevejos devem ser monitorados e controlados, especialmente durante o período reprodutivo da cultura (enchimento de grãos). Os percevejos são pragas picadoras sugadoras, que se alimentam dos grãos de soja, reduzindo a qualidade fisiológica das sementes e o peso de grãos, reduzindo consequentemente a produtividade da cultura.
O monitoramento dos percevejos deve ser intensificado já no final do florescimento da soja e inicio da formação dos legumes. Mesmo que os danos variem em função da espécie da praga, o controle efetivo dos percevejos é determinante para o sucesso da lavoura.
O enchimento de grãos é a fase crítica para o controle dos percevejos em soja (figura 3), conforme recomendações de manejo, para lavouras destinadas a produção de grãos, o nível de ação para o controle dos percevejos é de 2 percevejos m-1 durante o período crítico, já para lavouras destinadas a produção de sementes, o nível de ação é de 1 percevejo m-1 .
Com relação a ocorrência de doenças, o monitoramento periódico e o manejo proativo reduzem os danos. Embora algumas doenças tenham sua maior ocorrência, por ocasião, no início do período reprodutivo, outras a exemplo da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) podem ocorrer em qualquer estádio do desenvolvimento da cultura (figura 03).
Período de ocorrência das principais doenças da soja
Considerando que algumas doenças tem maior destaque no início e/ou no final do ciclo de desenvolvimento da cultura, acompanhar a fenologia da planta é de suma importância para identificar possíveis focos de infecção. No entanto, vale lembrar que por se tratar em sua maioria de doenças fúngicas, condições climáticas e ambientais como temperaturas amenas, elevada umidade relativa do ar e molhamento foliar, podem acelerar o desenvolvimento de alguns patógenos.
Algumas doenças popularmente conhecidas como DFCs (Doenças de Final de Ciclo da Soja), apresentam maior ocorrência e sintomas no final do ciclo da cultura. Algumas DFCs em específico, se destacam por causar danos não só quantitativos, como também qualitativos, podendo reduzir a qualidade dos grãos e/ou sementes produzidas.
Dentre as principais DFCs da soja que acometem a soja, podemos destacar, a Septoriose em soja (Septoria glycines), oídio (Microsphaera diffusa), mancha-olho-de-rã (Cercospora sojina), crestamento foliar e mancha púrpura (Cercospora kikuchii), mancha-alvo (Corynespora cassiicola), antracnose (Colletotrichum truncatum) e a ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi).
Segundo Santos (2023), embora algumas DFCs como antracnose, crestamento foliar, mancha-parda e mancha olho-de-rã, expressem seus sintomas no final do ciclo da soja, é comum que a infecção do patógeno na planta ocorra em estádios anteriores do desenvolvimento da soja. Nesse sentido, o monitoramento frequente das áreas e o manejo proativo é determinante para reduzir a incidência dessas doenças em soja.
Tendo em vista que a planta precisa “construir” um bom índice de área foliar para a boa interceptação de radiação solar, e consequentemente produção e acúmulo de fotoassimilados nos grãos, o controle de doenças foliares em soja é indispensável tanto no período vegetativo, quanto na fase reprodutiva da cultura.
Conforme recomendações de manejo, doenças mais agressivas como a ferrugem-asiática, devem ser controladas de forma preventiva a ocorrência dos sintomas, especialmente em anos com condições climáticas a ambientais favoráveis ao desenvolvimento do patógeno, bem como elevada pressão de inóculo (FRAC-BR, 2020).
Em suma, compreender a fenologia da soja e acompanhar seu desenvolvimento, é a base para o bom monitoramento da lavoura. Além disso, é preciso compreender as exigências climáticas, nutricionais e ambientais da soja nos diferentes estádios do seu desenvolvimento, a fim de ajustar práticas de manejo que possam potencializar a produtividade e/ou assegurar a manutenção dela.
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