Naturalmente a grande maioria dos solos apresenta certa fertilidade natural, podendo servir como fonte de substrato e nutrientes para o crescimento e desenvolvimento vegetal. Entretanto, há uma grande variabilidade qualitativa e quantitativa dos nutrientes presentes no solo, sendo possível observar discrepâncias nutricionais, nem sempre possibilitando com que a planta possa expressar seu potencial produtivo.
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Tendo em vista que a nutrição é um dos principais fatores limitantes da produtividade da soja, a adequada nutrição é fundamental para a obtenção de altas produtividades. Levando em consideração a grande variabilidade nutricional nos solos, adequar os teores nutricionais por meio da adubação do solo é uma das principais estratégias para viabilizar a produção agrícola.
Diagnose nutricional
O primeiro passo para realizar o cálculo de adubo para soja é realizar o diagnóstico nutricional do solo. A diagnose do estado nutricional do solo é realizada por meio da análise química da fertilidade do solo, através da coleta de amostras de solo representativas da área, seguindo as recomendações preestabelecidas.
Deve-se levar em consideração o tamanho da área e a camada de solo a ser amostrada. Após a prática da análise química da fertilidade do solo, deve-se realizar a interpretação dos resultados do laudo, a fim de identificar e determinar as medidas de intervenção.
Cálculo da quantidade de adubo
A quantidade de nutrientes requeridos pela cultura pode variar em função da cultivar, extração de nutrientes, acúmulo de biomassa pela cultura, estádio do desenvolvimento vegetal, condições de solo entre outros (Floss, 2022). Normalmente, o acúmulo de nutrientes pela planta apresenta relação com a produção de biomassa da cultura, durante seu desenvolvimento. Logo, a adequada nutrição vegetal deve suprir o requerimento da cultura, tanto nos períodos de baixa extração quando de alta extração de nutrientes.
O cálculo da quantidade de adubo a ser atribuído ao sistema de produção deve levar em consideração alguns fatores em específico, sendo os principais:
- Teores nutricionais do solo;
- Extração de nutrientes pela cultura;
- Expectativas de produtividade;
- Teor de nutrientes nos fertilizantes;
- Cultura Antecessora.
De modo geral, o cálculo da adubação para a soja deve suprir a extração de nutrientes pela cultura, com base nas expectativas de produtividade preestabelecidas. Para tanto, é necessário conhecer a extração de nutrientes pela soja. Visando facilitar o processo, os manuais de adubação e calagem para uso na agricultura, possibilitam o cálculo preciso da quantidade de nutrientes necessários para adubação, utilizando os resultados obtidos na análise química da fertilidade do solo.
Cabe destacar que a necessidade de determinados nutrientes, são calculados em função da expectativa de produtividade, extração pela cultura e parâmetros de solo, sendo os de maior importância, o teor de argila, a CTC do solo (capacidade de troca de cátions), a saturação por bases, entre outros.
Além disso, é preciso compreender que as recomendações do cálculo de adubação para a cultura da soja variam em função do local de cultivo, em específico para Estados da Federação, pela variabilidade de solo e métodos utilizados para a determinação de teores nutricionais. Para os Estados do Rio grande do Sul e Santa Catarina por exemplo, para o nutriente Fósforo (P), o teor do nutriente é extraído pelo método Mehlich-1, e as 4 classes de interpretação variam em função do teor de argila do solo (Floss, 2022). Logo, para o cálculo correto da adubação para a soja, deve-se considerar as recomendações técnicas para cada região de cultivo.
Ainda que realizada a adequada quantificação dos nutrientes a serem fornecidos para a cultura, é necessário ajustar a dose dos fertilizantes com base nos teores nutricionais presentes no adubo. Quando necessário, a dose de correção da fertilidade do solo deve ser quantificada e aportada a fim de ajustar os teores nutricionais do solo. Já em situações em que [LATCP2] há equilíbrio nutricional, sem a presença de déficits, a quantidade de fertilizantes deve suprir apenas a extração da cultura (adubação de manutenção).
Disponibilidade de nutrientes.
Além da adequada nutrição, é necessário proporcionar condições adequadas de solo para que a planta possa absorver esses nutrientes e expressar seu potencial produtivo. Um dos principais fatores responsáveis por limitar a disponibilidade de nutrientes da solução do solo para a soja é o pH. Solos com pH inadequado tendem a reduzir a disponibilidade de nutrientes para a planta, mesmo sob condições de elevados teores nutricionais.
Figura 1. Disponibilidade de nutrientes em função do pH do solo.
Fonte: Embrapa (2013)
Logo, adequar o pH do solo através da calagem é tão importante quando acertar o cálculo do adubo. Além disso, os calcários calcítico e[LATCP1] dolomítico são importantes fontes de Cálcio e Magnésio respectivamente.
Cálculo de macronutrientes
Partindo do pressuposto que o solo apresenta condições adequadas de pH, para cálculo da quantidade de macronutrientes, em especial Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K) deve-se levar em consideração alguns fatores. De maneira geral, a adubação nitrogenada na cultura da soja não é comumente utilizada, considerando que boa parte deste elemento é fornecido via FBN.
Se tratando dos fertilizantes N-P-K para uso na base de semeadura, restam então P e K. Para cálculo da quantidade de adubo, em virtude das características de mobilidade no solo, deve-se priorizar suprir a demanda de Fósforo pela cultura. Esse deve ser o primeiro nutriente a ser ajustado na dose de fertilizante. Na grande maioria dos casos, especialmente se tratando de lavouras de alto teto produtivo, é extremamente difícil ajustar a dose de fertilizante visando suprir toda da demanda de K sem exceder a dose de P requerida pela soja.
Contudo, por apresentar maior mobilidade no solo, uma vez ajustada a quantidade requerida de P pela soja, o restante do K requerido pela cultura pode ser fornecido via lanço, em cobertura, por meio do uso de fertilizantes potássicos. Em algumas situações, a adubação potássica pode ser parcelada ou até mesmo ocorrer totalmente via lanço, sem a necessidade da adubação via sulco.
Cálculo de micronutrientes
Embora requeridos em menores quantidades em comparação aos macronutrientes, os micronutrientes desempenham funções essenciais na planta. Em função da menor quantidade requerida, a adubação foliar se mostra como uma excelente alternativa para o suprimento destes elementos para a cultura, lembrando que é fundamental considerar a fonte utilizada para cada nutriente, bem como o estádio fenológico da cultura e a expectativa de produtividade para que o manejo dos micronutrientes seja realizada de forma mais eficiente possível.
Independentemente da lavoura, o cálculo de adubação deve se embasar na interpretação dos teores nutricionais do solo, expectativas de produtividade e recomendações técnicas para a região de cultivo, sendo necessário ajustar a dose de adubo com base no requerimento nutricional da cultura.
Referências:
CRISPINO, C. C. et al. ADUBAÇÃO NITROGENADA NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 75, 2001.
FLOSS, E. L. MAXIMIZANDO O RENDIMENTO DA SOJA: ECOFISIOLOGIA NUTRIÇAO E MANEJO. Passo Fundo, ed. 2, 2022.
SBCS. MANUAL DE CALAGEM E ADUBAÇÃO PARA OS ESTADOS DO RIO GRANDE DO SUL E SANTA CATARINA. SOCIADADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO – NÚCLEO REGIONAL SUL, COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO, 2016.
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