A boa produtividade de uma lavoura depende de inúmeros fatores ambientais e de manejo adotado após o plantio da soja. Isto pode interferir direta ou indiretamente no rendimento da cultura.
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As fases correspondentes à determinação dos componentes de produtividade da soja são essenciais para definir a produtividade final da cultura, sendo indispensável um manejo adequado após o plantio de soja, que permita condições favoráveis ao crescimento e desenvolvimento vegetal, possibilitando com que a plantas expresse seu potencial produtivo.
Um dos fatores mais importantes para obtenção de boas produtividades na cultura da soja e um bom estabelecimento inicial e uma densidade de plantas adequada. Por sua vez, a densidade de plantas é definida com base no estande de plantas presentes na lavoura.
Plantio da soja: componentes de produtividade
Para a definição de um bom estande de plantas é fundamental atentar durante o plantio de soja para as sementes utilizadas, o processo germinativo e a emergência das plântulas. Sementes de qualidade, as quais contenham boa germinação e vigor, proporcionam maior emergência de plântulas e uniformidade do estande quando submetidas a condições ambientais e de manejo adequadas.
Germinação da semente
Basicamente para que ocorra a germinação de uma semente após o plantio de soja são necessárias condições adequadas de umidade, temperatura e aeração do solo, podendo a interação das sementes com esses fatores variar de acordo com a espécie. Segundo Zanon et al. (2018), quando atendidas essas condições, a semente começa a absorver água dando início no processo germinativo, o qual acarreta uma série de processos bioquímicos, metabólicos e enzimáticos no interior da semente. Parte das reservas das sementes são destinadas para a região da diferenciação meristemática, promovendo a elongação da radícula e do hipocótilo.
A soja é uma espécie de germinação epígea, ou seja, o hipocótilo carrega os cotilédones para fora do solo, os cotilédones então, são estimulados pela radiação solar a formarem pigmentos fotossintéticos. Entretanto, para definição do período de emergência é fundamental a utilização de um método que busque padronizar a avaliação e caracterização do estádio. Para isso, foram criadas escalas fenológicas do desenvolvimento de diferentes cultura agrícolas.
Para a cultura da soja, a escala fenológica mais utilizada a nível mundial é a escala proposta pro Fehr & Caviness (1977) a qual possibilita detalhadamente a identificação dos estádios fenológicos da cultura. Conforme destacado por Farias et al. (2007), com base no sistema proposto por Fehr & Caviness (1977) o estádio denominado VE representa a emergência das plantas de soja, sendo que toda planta recém emergida e com os cotilédones acima do nível do solo, tendo os cotilédones formado ângulo igual ou superior a 90° com o hipocótilo da plântula pode ser considerada em VE.
Para fins agronômicos e de manejo da lavoura, o ideal é considerar uma população de plantas em VE quando 50% ou mais das plantas atingirem o estádio fenológico mencionado.
Esse estádio requer uma série de cuidados para diminuir a interferência de fatores bióticos e abióticos. O manejo fitossanitário deve ser realizado de forma preventiva, utilizando ferramentas que possibilitem a menor interferência de pragas e doenças reduzindo a perda de plantas.
Em VE a atenção precisa ser redobrada, visto que a planta de soja se encontra em um dos seus estádios de maior vulnerabilidade. O ataque de pragas como lagartas ou percevejos assim como a incidência de doenças pode causar uma redução representativa no estande de plantas, alterando a densidade de plantas e por consequência reduzindo a produtividade da soja.
Embora em alguns casos a densidade de plantas não desencadeie impactos tão expressivos na produtividade da soja como observado por Bandinot Junior et al. (2015), cabe destacar que a interação entre a densidade de plantas e a produtividade de soja pode estar intimamente ligada ao genótipo, fazendo com que respostas maiores ou menores a essa variável sejam observadas em distintos genótipos de soja. Entretanto, os autores destacam que em casos de maiores reduções no estande de plantas, a produtividade pode ser afetada negativamente, refletindo em baixas produtividades quando comparado a populações com densidades de plantas próximas a 335 mil plantas.ha-2.
Tendo em consideração que toda semente de soja representa um custo de aquisição e/ou produção, a perda de sementes e plantas não é algo desejado. Em VE as plântulas de soja ainda não apresentam sistema radicular bem desenvolvido que permita à planta absorver todos os nutrientes no solo para seu crescimento e desenvolvimento, logo, algumas reservas das sementes e cotilédones dão suporte para o crescimento vegetal.
Sendo assim, a submissão das plântulas ao ataque de pragas e patógenos pode prejudicar o crescimento de desenvolvimento da planta, ou até mesmo comprometer sua viabilidade. Logo, o controle dessas pragas e/ou doenças torna-se inevitável e essencial para diminuir a perda de plantas. Uma das principais ferramentas para esse controle é o tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas que proporcionem um efeito residual duradouro.
Já com relação a fatores ambientais, estiagens prolongadas podem prejudicar o estabelecimento das plantas em VE, já que o sistema radicular das mesmas é limitado as camadas mais superficiais do solo. Além disso, altas temperaturas do solo podem causar o tombamento fisiológico das plântulas que segundo Neumaier et al. (2000) tem como principal consequência lesões no hipocótilo da planta causando seu tombamento podendo ocasionar a morte das plantas.
O tombamento fisiológico pode ser confundido com Damping-off ou Tombamento causa por (Rhizoctonia solani), o qual também ocorre nos estádios iniciais do desenvolvimento da soja, entretanto no tombamento fisiológico não são observadas lesões provenientes do ataque de patógenos. Contudo no sistema de plantio direto o recobrimento do solo com a palhada de culturas anteriores possibilita uma diminuição a temperatura do solo, o que proporciona condições mais favoráveis ao desenvolvimento das plântulas.
Com base nos aspectos observados e da importância do estádio VE na cultura da soja, é possível concluir que uma série de fatores podem prejudicar ou comprometer o a viabilidade das plantas nesse estádio, sendo assim, é essencial conhecer os estádios de desenvolvimento da culturas e suas particularidades para um adequado planejamento das práticas de manejo que serão realizadas no cultivo da soja após o plantio.
Referências:
BALBINOT JUNIOR, A. A. et al. DENSIDADE DE PLANTAS NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, Documentos, n. 364, Londrina, 2015.
FARIAS, J. R. B. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica n. 48, Londrina, set. 2007.
FEHR, W.R., CAVINESS, C.E. STAGES OF SOYBEAN DEVELOPMENT. Ames: Iowa State University, (Special Report, 80), 12p. 1977.
NEUMAIER, N. et. al. ESTRESSES DE ORDEM ECOFISIOLÓGICA. Estresses em soja, Embrapa Trigo, 2000.
ZANON, A. J. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRDUTIVIDADES. Santa Maria, 136p. 2018.
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