Tudo o que você precisa saber sobre Coinoculação

Não há como falar de coinoculação sem citar a inoculação e a fixação biológica de Nitrogênio (FBN) que é um dos processos mais importantes para a sustentabilidade e rentabilidade da cultura da soja. Esse processo se dá pela simbiose entre bactérias do gênero Bradyrhizobium e as plantas de soja, formando nódulos no sistema radicular, nos quais as bactérias se abrigam e recebem da planta hospedeira proteção e alimento. Em troca, capturam o nitrogênio atmosférico (N2) e, pela ação de uma enzima bacteriana, a nitrogenase, o reduzem a amônia que então é transformada em compostos nitrogenados que são exportados para a planta hospedeira (Nogueira et al. 2018).

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Como o Nitrogênio é o macronutriente mais requerido pela cultura da soja, o processo de FBN além de fornecer o nutriente para as plantas representa uma significativa redução dos custos de produção, pela não obrigatoriedade da utilização de fertilizantes nitrogenados. A inoculação da soja com bactérias do gênero Bradyrhizobium é a forma mais prática e usual de aumentar a população dessas bactérias benéficas no solo, possibilitando com que haja um eficiente processo de FBN. Embora a inoculação seja vista por alguns como um processo trabalhoso, seu baixo custo aliado as vantagens da prática refletem em bom aporte de nitrogênio para a cultura da soja. “Inocular não dá trabalho, dá nitrogênio”.

Mas e a coinoculação, o que é ?

A coinoculação consiste basicamente no uso em conjunto de bactérias do gênero  Bradyrhizobium com bactérias do gênero Azospirillum.

As bactérias do gênero Azospirillum fixam Nitrogênio assim como as bactérias do gênero Bradyrhizobium?

Embora modesta, o Azospirillum possui uma capacidade em fixar nitrogênio atmosférico, entretanto, diferentemente da relação entre soja e bactérias do gênero Bradyrhizobium que é uma simbiose, a relação entre as plantas de soja e as bactérias do gênero Azospirillum é uma associação, sendo assim, nem todo o nitrogênio fixado por essas bactérias é disponibilizado para a planta de soja.

Quais os benefícios de coinocular a soja com Azospirillum spp.?

Além do papel do Azospirillum fornecendo nitrogênio no sistema, ele atua em um processo muito importante, que consiste na síntese de fitormônios que promovem o crescimento vegetal, principalmente do sistema radicular, o que favorece a nodulação e a FBN realizada pelo Bradyrhizobium, além de trazer outros benefícios, como ampliação do sistema de raízes, o que aumenta o volume de solo explorado (Prando et al., 2020). Além disso, Prando et al. (2020) destacam que plantas coinoculadas em comparação a plantas apenas inoculadas com Bradyrhizobium apresentam maior nodulação, além de ganho médio de produtividade de 16%, ou seja, o dobro do ganho em produtividade proporcionado pela inoculação apenas com Bradyrhizobium. O incremento de produtividade trazido pela coinoculação da soja também foi observado por Grigolli (2015); Hungria & Nogueira (2017) e Manteli et al. (2019).

Como a coinoculação promove aumento de produtividade da soja?

A coinoculação com bactérias do gênero Azospirillum estimula o crescimento e desenvolvimento do sistema radicular das plantas, com isso proporcionando maior volume de solo explorado e maior disponibilidade de água e nutrientes sob condições adequadas de fertilidade e disponibilidade hídrica do solo. Além disso, conforme observado por Grigolli (2015), assim como Manteli et al. (2019), a coinoculação proporciona aumento do número e massa de nódulos da FBN, favorecendo esse processo e como consequência refletindo em maior nitrogênio fixado pelas bactérias e disponibilidade o nutriente para a planta de soja.

Tabela 1. Número de Nódulos (NN) e massa de nódulo (MN) no estádio R4, da cultura da soja submetida à inoculação e coinoculação. UNISEP- Dois Vizinhos-PR, 2018.

* Significativo pelo teste F (α = 0,05). Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste Scott-Knott (α = 0,05). CV(%): Coeficiente de Variação. R4: estádio de desenvolvimento da cultura da soja: legume completamente desenvolvido.

Fonte: Mateli et al. (2019)

Como realizar a coinoculação em soja?

Conforme observado por Braccini et al. (2016), basicamente há duas formas de realizar a coinoculação em soja que apresentam resultados satisfatórios com relação ao incremento de produtividade, sendo elas: via tratamento de sementes ou via sulco de semeadura. Para realizar a coinoculação da soja pode-se utilizar inoculantes líquidos ou turfosos, sendo que na maior parte dos casos, ambas as bactérias são encontradas separadamente, sendo necessário adicionar dois inoculantes (Bradyrhizobium + Azospirillum).

Alguns cuidados são necessários ao se trabalhar com inoculantes, um deles é com relação ao armazenamento e manipulação das bactérias. Por se tratar de organismos vivos, altas temperaturas podem causar mortalidade das bactérias. Quando a coinoculação é via tratamento de sementes, as sementes podem ser adquiridas já tratadas (TSI) ou tratadas a nível de propriedade (tratamento de sementes on Farm). Quando o tratamento de sementes for realizado na propriedade utilizando inoculantes turfosos, deve-se atentar para a adição de substância adesiva a exemplo da calda açucarada para promover boa adesão entre inoculantes e sementes, além disso, a boa distribuição do inoculante sobre as sementes é de fundamental importância.

Figura 1. Sementes de soja sem inoculação (esquerda); apenas inoculante turfoso (centro); inoculante turfoso aplicado após umedecimento das sementes com solução açucarada a 10% (direita).

Comparação de sementes de soja com e sem inoculante

Foto: Marco Antonio Nogueira.

O tratamento de sementes utilizando inoculante líquidos por sua vez, possibilita melhor distribuição e adesão dos inoculantes nas sementes. Embora tradicionalmente o Bradyrhizobium e o Azospirillum sejam comercializados separadamente, atualmente algumas ferramentas que combinam ambas as bactérias em uma única formulação estão disponíveis no mercado, trazendo maior praticidade ao processo de coinoculação da soja, uma dessas ferramentas é o inoculante Masterfix L Dual Force desenvolvido pela Stoller.

A inoculação no sulco de semeadura pode sua vez, consiste na aspersão de uma solução contendo o inoculante diretamente no sulco de semeadura na soja, no momento de semeadura da cultura. Essa prática que vem apresentando bons resultados e traz como principais benefícios o maior contato entre inoculante, semente e solo, além de maior praticidade para a coinoculação de soja.

Figura 2. Inoculação de soja no sulco de semeadura.

Inoculação de soja no sulco de semeadura

Fonte: Revista Cultivar

Seja qual for a forma de realização da coinoculação, quando realizada de acordo com as recomendações agronômicas bons resultados que podem ser observados na soja, incrementando na produtividade da cultura.

Referências:

BÁRBARO, I. M. et al. PRODUTIVIDADE DA SOJA EM RESPOSTA Á INOCULAÇÃO PADRÃO E CO-INOCULAÇÃO. Colloquium Agrariae, v. 5, n.1, Jan-Jun, p. 01-07, 2009.

BRACCINI, A. L. et al. CO-INOCULAÇÃO E MODOS DE APLICAÇÃO DE Bradyrhizobium japonicum e Azospirillum brasilense E ADUBAÇÃO NITROGENADA NA NODULAÇÃO DAS PLANTAS E RENDIMENTO DA CULTURA DA SOJA. Sci. Agrar. Parana., Marechal Cândido Rondon, v. 15, n. 1, jan./mar., p. 27-35, 2016.

GRIGOLLI, D. C. INOCULAÇÃO E COINOCULAÇÃO NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja, 29014/2015, 2015.

HUNGRIA, M.; NOGUEIRA, M. A. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium E Azospirillum: UMA TECNOLOGIA AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL E ECONOMICAMENTE BEM SUCEDIDA. Resumos expandidos da XXXVI Reunião de Pesquisa de Soja – junho de 2017.

MANTELI, C. et al. INOCULAÇÃO E COINOCULAÇÃO DE SEMENTES NO DESENVOLVIMENTO E PRODUTIVIDADE DA CULTURA DA SOJA. Revista Cultivando o Saber, v. 12, p. 111-122, 2019.

NOGUEIRA, M. A. et al. AÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA EM INOCULAÇÃO/ COINOCULAÇÃO COM Bradyrhizobium e Azospirillum NA CULTURA DA SOJA NA SAFRA 2017/18 NO ESTADO DO PARANÁ. Embrapa, Circular Técnica, n. 143, 2018).

PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium e Azospirillum NA SAFRA 2019/2020 NO PARANÁ. Embrapa, Circular Técnica, n. 166, 2020.

REVISTA CULTIVAR. COMO APLICAR FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO EM SOJA.

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